Stepsister: a história da meia irmã da Cinderella - Jennifer Donnelly

26 de outubro de 2019


Título: Stepsister: a história da meia-irmã da Cinderella
Autor: Jennifer Donnelly
Páginas: 464
Ano: 2019
Editora: Universo dos Livros
Gênero: Ficção, Contos de Fadas
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon 
Nota:   
Sinopse: Isabelle deveria estar exultante – afinal, está prestes a conquistar um lindo príncipe. Só existe um porém: ela não é a bela garota que perdeu o sapatinho de cristal, cativando o coração do príncipe. Ela é apenas a meia-irmã feia que cortou os dedos do pé para fazer caber o sapatinho… que agora está completamente sujo de sangue.

Quando o príncipe se dá conta da tentativa de Isabelle em enganá-lo, a recusa é inevitável e humilhante. Mas nada além do que ela merece: Isabelle é uma garota de aparência normal em um mundo que valoriza a beleza, uma moça determinada em um mundo que exige sua subserviência.

Até que… ela se depara com a oportunidade de mudar seu destino, e com isso provar o que as meias-irmãs feias sempre souberam: é preciso muito mais do que meros tormentos para despedaçar uma garota.



Resenha:

Estou aqui pensando sobre que palavras usar para falar sobre um livro que, sem sombra de dúvidas, entrou para a lista de top 10 da vida.

Primeiro quero deixar um agradecimento especial a Michelle Gimenes por sua tradução primorosa e pelo carinho das notas de rodapé inseridas no momento certo, sem exageros e que acrescentaram qualidade a experiência de leitura.

Fui convidada para uma leitura coletiva de Stepsister, livro que nos conta a história de Isabelle, uma das meias irmãs feias de Cinderella (sim, aquelas que tentaram impedir que a Gata Borralheira - nossa! Quanto tempo não vejo esse nome!! -  experimentasse o sapatinho de cristal perdido na escadaria do castelo) e entrei nessa aventura sem maiores expectativas que não as de uma leitura prazerosa e divertida com uma galerinha que ama os livros, além de poder conversar com elas sobre isso.

Mas me deparei com isso já nas primeiras linhas:

"Esta é uma história sombria. Uma história assustadora.
É uma história de outra época, em que lobos esperavam por garotas na floresta, feras andavam por corredores de castelos amaldiçoados e bruxas ficavam à espreita em casas feitas de pão de mel com telhados de confeitos.
Essa época acabou faz muito tempo.
Mas os lobos continuam por aqui, e agora são duas vezes mais espertos. As feras ainda existem. E a morte ainda se esconde na poeira."

Pensei "opa, vem coisa interessante por aí" e encontrei uma história realmente sombria, cheia de ódio, inveja, maldade e totalmente real, carregada de verdades. Um livro que mostra como as mulheres eram vistas nos séculos passados, como eram consideradas fracas, no dever de pertencer aos padrões estéticos e de comportamento mas muito mais profundo do que isso, ele trata de depressão, de dores tão profundamente enraizadas na personagem que a autoestima e o amor próprio são praticamente inexistentes. Dores causadas por pessoas tão próximas que são indispensáveis e, por serem tão amadas, têm acesso ao mais íntimo dela, conseguindo com suas falas agressivas e atitudes contundentes, arrancar pedaços de seu coração.

"Isabelle cortara fora seus dedos mas às vezes ela ainda os sentia. Maman arrancara seu coração. Às vezes, ela ainda o sentia também."

Nessa história vamos encontrar basicamente a luta de uma menina de 16 anos em se descobrir, em entender seu papel na família e na vida. Uma menina que não entende porque há necessidade de seguir um padrão que as amarras da sociedade impõem para as mulheres. Enquanto Fate, o Destino, já escreveu o caminho dela, um mapa a seguir, Chance tenta, de todas as formas, dar a ela uma oportunidade de que se liberte e seja feliz. Enquanto ela busca por beleza física achando que seria a solução para tudo, é colocada numa caça pelos pedaços perdidos de seu coração e isso mostra coisas tão mais puras e importantes a ela.

"Este mundo, as pessoas... Minha mãe, Tantine.. elas nos categorizam. Nos colocam em caixotes. Você é um ovo. Você é uma batata. Você é um repolho. Elas nos dizem quem somos. O que faremos. O que seremos."

Uma amiga me disse a alguns dias que nós, mulheres, estamos eternamente condicionadas a algum tipo de cobrança e de amarras. Se no passado fomos controladas por ser frágeis, hoje somos cobradas com a imposição de sermos fortes. Mas por que não podemos simplesmente ser nós mesmas? Por que não podemos ser sim felizes gordinhas? Por que não podemos ser guerreiras mas tudo bem se quisermos ser a garota romântica? Por que somos questionadas a cada minuto de nosso dia? Temos, todos, o direito de sentir dúvidas e de sim, termos uma dualidade de sentimentos e desejos que nos tornem únicas!



Esta leitura traz essa questão de não sermos unicamente boas ou ruins, bonitas ou feias apresentando o tempo todo situações em que essa dualidade aflora e que colocam nossas personagens em momentos de questionamento, trabalhando arduamente para que a culpa de não cumprir um papel pré estipulado não as corroa.

Até as pessoas mais belas podem carregar momento de inveja, raiva e mágoa dentro de si, assim como as menos belas podem esconder verdadeiras guerreiras lutando por um bem maior, de forma desinteressada e totalmente altruísta.

Nesse livro vemos justamente isso... Temos a menina que sonhou em se casar com o príncipe mas temos aquela que quer casar com o fazendeiro, temos uma que ama matemática e outra que gostaria de ser soldado, de estar na guerra protegendo o povo! E temos, eternamente, o questionamento de porquê não merecer o respeito de todos apenas por ser somente aquilo que se quer ser.

Cada minuto de leitura foi uma lição de vida, um sacolejo na mente, daqueles que te fazem acordar de uma vida medíocre e normal para uma de plenitude e de tranquilidade emocional.

Alguns diriam que essa é uma obra feminista e sim, todas as mulheres deveriam ler esse livro, mas eu acredito que seja mais do que isso, que seja uma lição para todos do quanto somos condicionados através de ensinamentos "maquiados" e preparados para esconder fatos que seriam essenciais para nossa realização, para a auto estima, amor próprio e valorização pessoal.

"Durante toda sua vida, ela fora ensinada que governantes do sexo feminino eram apenas fantoches, que mulheres não lutavam nem lideravam soldados na guerra.
(...)
Elas não eram belas, aquelas mulheres. Bela era uma palavra que não bastava nem para começar a descrevê-las. Elas eram sagazes. Poderosas. Ardilosas. Orgulhosas. Perigosas. Elas eram fortes. Elas eram corajosas. Elas eram lindas."

Se vocês, como eu, gostam de anotar passagens do que leem, preparem muito papel e caneta. E se vocês, como eu, imergem nas leituras e se emocionam, preparem muitos lenços. E separem tempo para reler... Pois é exatamente isso que farei assim que terminar essa resenha.



8 comentários

  1. Um livro que me pegou de cheio. Impossível não sentir que desde a dedicatória esse livro não foi feito para nós.

    Um livro lindíssimo

    ResponderExcluir
  2. Puxa, sabe o que mais me encanta numa resenha? Quando vou lendo a resenha e já abrindo a página do Skoob ao lado, só para adicionar o livro na estante de desejados!
    Primeira resenha que leio deste livro que tem uma capa maravilhosa, mas como não havia lido nem a sinopse, não imaginava o que iria encontrar.
    E termino de ler acima, com o coração dolorido só de imaginar esse enredo.
    As mulheres sempre viveram essa pressão da sociedade para serem lindas, perfeitas e sem defeitos.
    O sonho de se casar com o príncipe...puxa...
    Até quando precisaremos sofrer para nos enquadrarmos neste padrão imposto pela sociedade??
    Já foi para a lista dos mais desejados!

    Beijo

    Rubro Rosa/O Vazio na flor

    ResponderExcluir
  3. Fabiola!
    Interessante ver uma obra com uma personagem já tão conhecida de outra história, ser totalmente recriada e trazendo ótimas lições e ensinamentos, principalmente quanto ao papel da mulher na sociedade, em casa, consigo mesma, enfim, podermos redescobrir uma mulher coo gostaríamos que fossêmos vista.
    Genial!
    cheirinhos
    Rudy

    ResponderExcluir
  4. Oi Fabíola,
    Amo recontos e só isso já seria o suficiente para me fazer querer ler este livro, mas um reconto da Cinderela e de uma personagem que eu não esperava é o real atrativo dessa história para mim. Uma coisa que sempre ficou clara para mim era o fato de que a criação foi uma grande responsável pelas personalidades e características das meia-irmãs da Cinderela. Acho que Stepsister veio para mostrar isso e muito mais. Nós mulheres sempre seremos os alvos da cobrança, não importa a época, classe social, idade, raça ou aparência. Mas ver isso pela visão de uma jovem dá um certo aperto, pois eu cresci com a cobrança de ser mais magra e isso foi algo que sempre me marcou. E é uma pena vermos que as pessoas só olham aquilo que elas acham que deve melhorar ou modificado e nunca olham a verdadeira essência do outro. Vou ser honesta e dizer que eu não estava esperando que este livro fosse ser tão profundo e abordar temas tão relevantes. Agora, mais do que nunca, quero fazer esta leitura e espero que ela seja tão boa para mim como foi para você.

    ResponderExcluir
  5. Oi fabi, só te digo uma coisa: EU ESTOU SUPER ANSIOSA PARA ESTE LIVRO (SOCORRO)!
    Essa autora deve ter sido fantástica ao abordar esse temas como ditos da resenha: sobre autoestima, padrão de beleza, a figura da mulher da sociedade, o seu valor... E como nós sempre somos julgadas pela aparência física. Estou tão empolgada e fiquei mais empolgada ainda ao ler essa resenha. Nossa, esse livro deve ser incrível! Essa reflexão tua e da amiga são reais, nós somos o tempo inteira controladas e exigida da sociedade e isso nunca parece ter fim. É totalmente irritante. A sociedade patriarcal existe e nos atinge.
    Ótima resenha, estou ansiosa para a leitura!
    Beijinhos

    ResponderExcluir
  6. Olá! Esse livro me surpreendeu de todas as maneiras e o mais importante positivamente (ufa), a expectativa estava lá encima e não me decepcionei, foi uma leitura linda, com personagens tão humanos que foi impossível não se identificar, já nas primeiras páginas tive a certeza que a história era para mim. E no final da história só restou aquele sorriso bobo e a sensação de puxa, poderíamos ter tido mais um “cadinho” neh! Aquele livro para devorar em horas e Isabelle vai está sempre no meu coração em um lugar de destaque.

    ResponderExcluir
  7. Olá! ♡ Parabéns pela resenha maravilhosa, eu adorei! Preciso fazer essa leitura! ♡
    Achei bem original e interessante uma história sobre uma das meias irmãs da Cinderela.
    Achei extremamente importante e relevante as discussões que a autora abre no livro. É revoltante ver como as mulheres eram vistas nos séculos passados, éramos privadas até mesmo de estudar, de ter nossas próprias opiniões. A sociedade precisa nos aceitar da maneira que somos, não devemos seguir padrões, mas sim sermos felizes da nossa maneira. Me dói ver o quanto esses padrões estão enraizados na nossa sociedade, o quanto eles minam nosso amor próprio e acabam com a nossa autoestima.
    Nós somos mulheres, somos fortes, lutadoras, somos maravilhosas do jeito que somos e merecemos respeito! ♡
    Muitooo obrigada pela indicação, preciso ler essa obra maravilhosa o mais rápido possível! Certeza que irei me emocionar!
    Beijos!

    ResponderExcluir
  8. Oiii ❤ Nunca vi uma história que fosse sobre uma das meia-irmãs da Cinderela, o final é sempre elas se dando mal, nunca vi ninguém que quisesse dar um final mais bem elaborado para elas.
    Eu estou fascinada com a temática desse livro, que ele fale como as mulheres sempre tiveram que seguir um padrão, ser o que a sociedade espera delas. Parece realmente difícil a personagem se aceitar numa sociedade que cobra tanta perfeição.
    É triste quando a sua própria impõe um padrão a você. As coisas nunca foram fáceis para Isabelle.
    Eu adoraria ler esse livro.
    Beijos ❤

    ResponderExcluir