A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões - Louise O’Neill

17 de agosto de 2019

Título: A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões
Autor: Louise O’Neill
Páginas: 224
Ano: 2019
Editora: Darkside
Gênero: Fantasia, Ficção, Jovem adulto, Literatura Estrangeira
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota:  
Sinopse: TUDO PARECIA CALMO E COMUM NA SUPERFÍCIE... MAS NO FUNDO ERA O INICIO DE UMA REVOLUÇÃO!
Esqueça as histórias sobre sereias que você conhece. Esta é uma história diferente — e necessária. E tudo começa no fundo do mar. Com uma garota chamada Gaia, que sonha em ser livre de seu pai controlador, fugir de um casamento arranjado e descobrir o que realmente aconteceu à sua mãe desaparecida.
Em seu aniversário de quinze anos, quando finalmente sobe à superfície para conhecer o mundo de cima, Gaia avista um rapaz em um naufrágio e se convence de que precisa conhecê-lo. Mas do que ela precisa abrir mão para transformar seu sonho em realidade? E será que vale a pena?
A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões chega para trazer um pouco mais de contos de fadas para a linha DarkLove, da DarkSide® Books. Mas não do jeito que você espera; aqui, a história original de Hans Christian Andersen — e também suas versões coloridas e afáveis em desenhos animados — é reimaginada através de lentes feministas e ambientada em um mundo aquático em que mulheres são silenciadas diariamente — um mundo que não difere tanto assim da sociedade em que vivemos.
No reino de ilusões comandado pelo Rei dos Mares, as sereias não recebem educação, não têm direito de fala, devem se encaixar em um padrão de beleza impossível e sempre sorrir. É neste cenário que a autora irlandesa Louise O’Neill apresenta uma história sobre empoderamento e força feminina. Com narrativa e olhar afiados, a autora ainda desenvolve aspectos do conto original que passaram batido, como o relacionamento de Gaia com as irmãs e as camadas complexas da Bruxa do Mar.
A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões, que chega ao mundo acima da superfície da água com o padrão de qualidade que virou marca registrada da DarkSide® Books, mostra como, em um reino comandado pelo patriarcado, ter uma voz é arriscado. Mas também como querer usá-la é uma atitude extremamente poderosa e valiosa. Ainda mais em tempos tão sombrios.

Resenha:

“tudo parecia calmo na superfície...”


O que primeiro posso dizer sobre esse livro? Não é uma história de amor... Não é um conto de fadas...
Nesta releitura da história da Pequena Sereia, conto escrito por Hans Christian Andersen, da escritora Louise O’Neill, temos uma versão muito mais sombria do que a conhecida adaptação fofa, colorida e romântica da animação Disney, que claramente é a mais famosa para o grande público. 
Se no livro temos uma mistura tanto do conto original, como da versão Disney em alguns pontos, isso é apenas detalhes, a trama deste livro está mais para uma versão sombria, triste e realista da nossa própria realidade.

Essa é uma fantasia bem amarga de se ler, temos aqui uma critica ao machismo, referencias as dificuldades que as mulheres passam para sobreviverem em uma sociedade que exige cada vez mais delas, enquanto buscam as calarem e as rotular como enfeites.


A história nos mostra a jovem sereia Muirgen, ou Gaia, como gosta ser chamada (já que foi esse o nome escolhido por sua mãe, porém, ele não é aceitou por ser um nome da terra e não do mar), está completando 15 anos. Ela sempre desejou conhecer a terra e teu uma obsessão por tudo que vem de cima, mas somente no dia de seu aniversário, que ela poderá ir ate a superfície, essa é uma regra de seu pai o rei do oceano, ele permite que isso aconteça com todos, para que vejam a superfície e descubra por si mesmos, o quão horrível é e escolha o mar. Ela está obviamente ansiosa por isso, mesmo que saiba que poderá fazer apenas uma única vez.

Mas, seu aniversário é um dia de tristeza, para ela e suas irmãs, pois foi nesse mesmo dia que sua mãe, Muireann do Mar Verde, sumiu anos atrás, quando ela tinha apenas um ano. Segundo o Rei dos Mares, sua esposa foi capturada e morta por humanos, já que ela rompeu todas as regras, varias e varias vezes e fugiu para observar a superfície.  Porém, Gaia acredita que sua mãe ainda esteja viva em algum lugar.  Mas não pode conversar com isso com ninguém, já que o nome de sua mãe e tudo o mais sobre ela foi proibido.

É claro, que ao subir a superfície ela acaba conhecendo o humano Oliver e se apaixona por ele à primeira vista, desencadeando as cadeias de evento que mudam a sua vida.

“- E por que não? – pergunta ela, sua língua abanando sobre os dentes. – Por que eu deveria poupar este homem?- Eu...- Não seja tola, pequena sereia – murmura ela. - Os homens humanos não lhe trarão nada além de dor.”

Se na versão mais conhecida, temos uma sereia, que apesar de ter uma vida cercada de amor familiar, escolhe largar tudo por amor a um desconhecido, nesta versão, a razão de dela se tornar humana não é apenas por ter se apaixonado por um homem. Ok, pode ser muito importante, essa paixão cega e sem motivo real, porém, eu acredito que a profunda tristeza de Gaia e a vida dela a levou a isso. Crescendo em uma sociedade extremamente machista, onde as sereias são criadas para serem apenas adornos, sem vozes na sociedade, ela sente que está sufocando. Isso se une ao desespero de ser prometida a um tritão muito mais velho e a quem Gaia despreza.



Se não bastasse esses motivos, a autora criou uma dinâmica familiar, repleta de solidão para ela, que não se dá bem com as irmãs, cuja rivalidades entre elas é incentivada pelo pai; e uma avó, que não dá ouvidos aos seus medos.

Tudo isso se une a necessidade de Gaia de descobrir a verdade sobre o que aconteceu com sua mãe e se libertar das amarras que a restringiram por toda a vida.

São essas as principais motivações que a levam a escolher mudar não somente a si mesma como a sua vida. E é mudança dolorosa, não somente seu corpo é alterado, aqui preciso dizer bebendo diretamente do conto original, em uma transformação cruel, em referencia direta as mutilações que as mulheres fazem para se adequar ao que a sociedade e seus supostos amados desejam, como mentalmente e emocionalmente.

Para viver com Oliver, ela abre mão de sua voz (que é um elemento importante na trama, já que as sereias não têm voz ativa na sociedade como eu disse antes), sua cauda, seu ser interior, achando que tudo por ele seria o correto a ser feito.

É obviamente uma jornada de autoconhecimento esse livro, Gaia que sempre desejou a liberdade troca sua prisão no mar, por uma submissão na terra, abre mão de sua voz que nunca foi ouvida antes, para então perceber que isso era tudo o que desejava.

O ponto alto da história é os diálogos entre Ceto, a Bruxa do Mar, de quem eu gostaria que houvesse muito mais no livro, ou quem sabe um livro somente dela. O que ela fala para Gaia, é de uma verdade impressionante. Cruel e extremamente necessária, aqui a vilã, demonstra mais uma vez o verdade clássica, que um vilão nada mais é do que um personagem cuja história ainda não foi contada.

“- Eu moro na escuridão porque lá posso ser genuína, e viver genuinamente é a coisa mais importante que qualquer mulher pode fazer. – Ela inclina a cabeça para o lado – Mas exige coragem, e não somos ensinadas a sermos corajosas, somos? As mulheres são ensinadas a obedecer às regras.”

A Gaia é muito jovem e foi criada em um ambiente de repressão, que acabam por explicar muitas de suas ações e decisões, a falta de conhecimento do mundo e do seus direitos, a moldaram. E como a história é escrita em primeira pessoa, ficamos íntimos da visão que Gaia, do que ela sente, do que ela sabe, e principalmente de seus temores e falhas.

Algo que senti falta foi de relacionamentos femininos mais saudáveis, o livro descreve muito a competição entre as irmãs, os julgamentos, as cobranças e desconfiança tanto entre Gaia e suas irmãs, como entre ela e personagem humana feminina, a mãe de Oliver, que é descrita como louca, e de forma muito cruel. Apesar de aceitar que essa é uma visão realista, acredito que deveria ser mostrados em algum momento aspectos positivos da luta das mulheres, no livro, um pouco de sororidade não faria mal, e isso também pode ser a realidade, principalmente se for incentivada.

“- As mulheres sempre levam a culpa. Você já notou? As esposas são sempre as implicantes. Amante é uma piranha por trair a irmandade. E os homens sempre saem pela tangente. Criamos expectativas tão baixas em relação a nossos rapazes, não é mesmo, Grace?”

Minha conclusão final do livro, A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões é que traz uma leitura interessante, que convida os leitores a refletir e debater o feminismo, o seu real papel em uma sociedade equilibrada.  Esse espaço aberto para discussões, é algo imprescindível, são debates do tema, os questionamentos, a criação de uma nova geração que conhece seus direitos e valores, que podem mover nossa sociedade para um mundo mais justo.

Sem contar, que eu como fã de histórias sombrias e jornadas de amadurecimento me vi encantada com a Gaia, seus erros e acertos são muito interessantes, mesmo quando a história se mostra um pouco perdida, após ela ir para a terra, acredito que foi necessário para que ela pudesse compreender a si mesma, o final, foi um pouco corrido, as mudanças necessárias da personagem ficaram apenas para os capítulos finais, talvez, um melhor desenvolvimento nesse ponto fosse interessante, mas em minha opinião isso não desmereceu a trama. Gostei de como foi finalizado o livro.

 “...alguns homem tem muito medo de mulheres, minha criança. E esses homens são os que mais nos desejam, e são os mais perigosos quando não conseguem o que almejam.”

Vou falar da edição brasileira desse livro, a editora Darkside, não cansa de me surpreender, os detalhes da capa são belíssimos, o livro todo é feito em um belo acabamento já característicos dos livros da editora, eu apreciei muito o desenvolvimento da arte da capa e da diagramação. Acredito que é um dos livros mais lindos da editora. 

Espero que mergulhem nessa leitura e tenham uma ótima experiência.

Pontos interessantes da mitologia e mundo do livro.
                                                             
A sociedade é regida por mãos de ferro pelo Rei dos Mares e todos, tritões e sereias, temem-no. Dominador ele gosta de tudo do seu jeito e todos precisam se encaixem dentro dos padrões de beleza e personalidades que ele dita, ou são banidos do reino, para Longemar e entregues a uma vida de sofrimento e miséria.
Lá é o Mar das Sombras, lar das Rusalkas e de Ceto, a “Bruxa do Mar”.  
São as Rusalkas, ou Salkas, que na verdade fazem a referencias as sereias assassinas das lendas, elas cantam para atrair ao fundo do oceano os homens e assim os devorarem, elas que não são humanas nem sereias, mas já foram mulheres que em vida sofreram nas mãos de homens e agora buscam uma eterna vingança.
Eu pesquisei e descobri um fato interessante: “Rusalka” é uma ópera que conta a história de uma ninfa se apaixona por um humano, e é o nome da espécie de ninfa das águas no folclore eslavo.

“- É seu pai que tem insistido em me chamar de “bruxa”. Este é simplesmente um termo que os homens dão as mulheres que não tem medo deles, as mulheres que se recusam a submissão.”

9 comentários

  1. Primeira resenha que leio deste livro e já estou apaixonada. Em primeiro lugar mais uma vez pelo trabalho impecável da DarkSide na capa. Ow danada de Editora que capricha não somente nas capas, mas na diagramação de seus livros.
    Como amo contos de fadas e essas releituras, ainda mais trazendo essa tentativa de libertação feminina, mesmo no fundo do mar, já quero demais conferir a obra.
    Muito se assemelha ainda a nossa dura realidade como mulheres, o machismo, a imposição, o servir.
    São coisas que andam sendo brigadas sim, mas que precisam ainda de muita luta!!!
    Lerei!
    Beijo

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    1. Oiee
      É um livro que me deixou muito reflexiva e que adorei a experiência de leitura.
      Uma fantasia que trás uma realidade sombria de nossas vidas para a história e com isso trás um tema que precisa ser debatido
      Recomendo a leitura.

      Beijos.

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  2. Olá! Ahhh esses é um dos meus livros desejados no momento! Essa edição está tão linda que eu confesso que apesar de não curtir muito a história da Ariel, vou dar uma chance para ela só por conta dessa capa (risos). Acho que vai ser uma ótima oportunidade para tirar um pouquinho desse ranço, e vai ser incrível poder acompanhar essa história de um novo olhar e com semelhanças tão grandes do nosso dia-a-dia.

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    1. Oi Elizete
      Sim! Que capa maravilhosa!
      Eu até gosto do conto da Ariel (Disney e do tradicional)
      Mas gostei muito desse livro que o redefine totalmente!
      Espero que logo o possa ter e ler.
      Beijos.

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  3. Oiii ❤ Acho incrível que um livro de fantasia possa tratar de temas tão reais como padrões de beleza e machismo. Eu não esperava que o livro falasse sobre esses temas, mas estou surpreendida por isso e curiosa pra ver como serão tratados na história. Podemos trazer muito bem essas situações vividas pelas sereias para a nossa realidade.
    É triste que até entre as irmãs de Gaia existe competitividade, que não exista sororidade entre elas.
    Deve ser legal ver a Bruxa do Mar dessa releitura, já que ela não parece ser realmente uma vilã, apenas uma mulher que luta contra as injustiças, contra os abusos praticados contra as mulheres pelos homens.
    Esse último trecho é perfeito, os homens sempre viram as mulheres que ousaram ser mais do que lhes era permitido como bruxas.
    Com certeza, vou querer fazer essa leitura.
    Beijos ❤

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    1. Oi Rayane
      Eu também fui totalmente surpreendida por essa trama.
      Apesar de já imaginar uma adaptação sombria, não imaginava como seria a trama. E não me decepcionou.
      Um tema muito importante para ser debatido.
      Quando o ler espero que tenha uma experiência de leitura tão boa quanto eu tive.
      Beijos

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  4. Olá! Primeiramente tenho que falar sobre essa capa. Ela é simplesmente maravilhosa, cheia de detalhes e ilustrações lindas e as cores utilizadas combinam muito bem entre si. Sem dúvidas, é uma das capas mais lindas que eu já vi.
    O que mais chama minha atenção sobre essa história é que mesmo ela se tratando de uma fantasia, a autora aborda temas muito atuais e que precisam ser discutidos e trabalhados, como o machismo e as dificuldades que as mulheres enfrentam por viver justamente em uma sociedade tão machista e patriarcal.
    Estou animada para acompanhar a personagem nessa jornada de amadurecimento!
    Obrigada pela indicação! Beijos! ♡

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    1. Oi Rayssa
      A Darkside arrasa mesmo ❤
      Desejo a tu uma ótima experiência de leitura na jornada de amadurecimento de Gaia
      Será bem intensa.

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  5. Gosto muito de contos de fadas e de suas releituras, embora Ariel não seja minha preferida, gostei dessa versão feminista da obra, no entanto parece que a autora decepcionou um pouco nesse quesito, achei a personagem muito jovem e imatura, sinceramente esperava uma personagem mais forte.

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