Lua de Vinil - Oscar Pilagallo

30 de dezembro de 2017

Título: Lua de Vinil
Autor: Oscar Pilagallo
Páginas: 168
Ano: 2016
Editora: Seguinte
Gênero: Infantojuvenil, New Adult, Literatura Brasileira
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Livraria da Folha | Amazon | Saraiva | Livraria Cultura | FNAC | Cia dos Livros
Nota:    
Sinopse:
Em 1973, a ditadura militar comandava o Brasil. O Pink Floyd lançava o aguardado disco The Dark Side of the Moon. E Giba passava os dias jogando futebol de botão com os amigos do prédio, suspirando por Leila, sua vizinha irreverente e descolada. Ele tentava ignorar o estado grave de seu pai, internado no hospital, e não sabia que a violência do governo estava muito mais perto da sua casa na Vila Mariana do que ele imaginava.
Até que, num dia tranquilo de março, ele acaba causando um acidente e se vê obrigado a lidar com um dilema moral que o fará abandonar a inocência dos dezesseis anos para sempre.
Resenha:

Confesso ser uma pessoa que prefere passar longe de romances históricos modernos. Tenho medo de me decepcionar com fatos sendo deturpados pelo bem da licença poética, e por isso costumo estar bem mais próximo de livros medievais e afins, onde as fontes são, por regra, mais escassas, levando a uma liberdade maior de criação. Com Lua de Vinil não foi diferente: O medo estava lá, mas a preocupação logo foi embora quando percebi que Oscar Pilagallo teria compromisso com um romance mais pé no chão, com fatos verossímeis, por mais que não necessariamente tenham acontecido na história real dos anos da Ditadura Militar (não que seja difícil os fatos lá narrados acontecerem durante os primeiros anos da década de setenta no Brasil).

A história do livro se passa em 1973, mesmo ano de lançamento do famoso disco "The Dark Side of the Moon", do Pink Floyd. Gilberto e seu amigo Figura são fãs incondicionais da banda, e as músicas fazem um curioso paralelo com os acontecimentos narrados, além de ter uma rica importância para o desenrolar desse romance. Que tal relembrar de um dos CDs mais aclamados da história enquanto lê essa resenha? :)

Lua de Vinil conta a história de Gilberto, um garoto normal que passa por uma puberdade conturbada. Seu pai está internado no hospital Oswaldo Cruz, e o garoto, junto com a sua mãe, cuidam do velho jornalista da BBC em turnos intercalados. Nas horas em que se encontra em casa, costuma passar o tempo no playground de seu prédio, junto com seus amigos também adolescentes de nomes engraçados (Zigoto, Cabaço e Fariseu são bons exemplos, mas não são os únicos). Futebol de botão é o passatempo favorito do grupo de Gilberto, de forma que os garotos levam a brincadeira quase a um nível profissional. Dentre seus amigos, o Figura é o mais interessante, pois durante a leitura, é possível ver uma espécie de amor e ódio pelo bad boy, que faz questão de ser atribuído à qualquer coisa ruim que aconteça nas redondezas.

Não sabe o que é futebol de botão, né? Pois bem, digamos que era o percursor do FIFA e do PES, que morreu há duas décadas atrás.

A relação de Gilberto com Figura foi uma das mais humanas que já li em algum livro. Pilagallo não poupou Gilberto; em vários trechos é possível ver uma forma volátil de agir com Figura, muitas das vezes agindo com o coração e com pré-conceitos, tomando sua própria verdade como única. Um personagem principal que mostra de peito estufado o quão falho é, com pouco ou nenhum protagonismo, é algo grande, para se aplaudir. Estamos falando de um adolescente que pouco sabe da vida, apesar de achar que sabe tudo, e é isso que faz Gilberto um personagem humano, realista e verossímil. Posso destacar também a sua relação com Leila, que apesar de ser comum e pouco inovadora, com certeza vai te trazer às boas lembranças dos primeiros amores juvenis.

Apesar de o livro ter uma história infanto-juvenil, um dos seus ápices é o momento onde Gilberto precisa tomar decisões que, apesar de árduas, trarão para sua vida um amadurecimento precoce. Essa decisão se sustenta em páginas anteriores, que com toda certeza te prenderão e farão com que cada parágrafo seja consumido a ponto de só parar quando saber até onde irão as consequências dos atos de Gilberto. Agnaldo, um enigmático vizinho de prédio, também estará ao lado de Gilberto, sendo um dos personagens que mais ajudarão no passo da inocência da puberdade até a responsabilidade de um homem adulto com os seus próprios conceitos.

Em entrevista à Folha de São Paulo, Oscar Pilagallo confessou ter se inspirado no clássico Lord Jim, de Joseph Conrad, para tratar dos dilemas morais de Gilberto. Você pode a matéria aqui, mas cuidado com os spoilers!

Lua de Vinil é um livro curto, porém rico em detalhes, seja ele nos sentimentos de um garoto, nas redondezas do bairro Vila Mariana, em São Paulo, ou até na ambientação da época em si. O autor fez um ótimo trabalho retratando a Ditadura Militar pelos olhos de um adolescente, e a neutralidade política foi usada com sabedoria, de forma que o livro ficou livre de ser só mais um palco para qualquer tipo de doutrinação política. A experiência dessa leitura deveria ser adquirida por qualquer jovem interessado no assunto, pois nele há um personagem principal de fácil identificação com o leitor e uma bela lição de moral para conflitar o pensamento de qualquer pessoa segura de seus ideais.

10 comentários

  1. Puxa, eu amo livros assim, que trazem um pouco da nossa história impressa nas letras. Ainda mais nessa época da ditadura, que sei que ainda há muito o que ser descoberto e revelado.
    O que acho melhor ainda, é que nossa literatura nacional tem nos feito sentir um orgulho imenso, ainda mais quando nos deparamos com um livro assim, não feito por acaso, mas sim com um plano de pesquisa, para não escrever coisas sem fundamento.
    A amizade, família e claro, a ditadura ali, ao lado, com certeza,formaram um cenário perfeito.
    Vai para a lista de desejados agora!
    Beijo

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  2. Não sei se leria assim de cara, mas gostei de ver mais dele. Parece ter uns temas interessantes, uma coisa que passa bem uma realidade. Li tão pouco de coisas que falem da Ditadura Militar...
    Gostei por ter esse jeito de personagens que parecem reais e situações fáceis de imaginar. Os detalhes fazem a diferença e se for bem feito pode ser muito legal de ler.

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  3. Oi, Michel. Acho que livros que falam sobre a Ditadura Militar precisam ser bem trabalhados e detalhados. E esse tema com certeza é o que destaca o livro, juntamente com o amadurecimento de um jovem.

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  4. Não me interessei muito em ler esse livro apesar de ter um apelo estressante e poucas páginas acho que a história não conseguiu me prender

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  5. Não me sinto animada para ler, não parece um livro que me agradaria. Eu fujo de histórias assim, mas gostei do protagonista por ele ser... real, falho, e pelo autor não ter feito dele um herói intocável pelo mal - erro comum infelizmente.

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  6. Também passo longe de romances históricos modernos, o medo de perder o contexto me faz desistir de ler. Por ter um personagem principal masculino, seria uma experiência agradável, já que raramente leio livros com homens protagonistas. Gostei de o autor fazer romance em uma época de grande totalitarismo mesmo sendo fictício, além de trazer um personagem que é "humano". Erra, aprende, segue em frente e tudo mais.

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  7. Michel!
    Confesso que apesar do livro ser ambientado durante a ditadura militar, que é um assunto que muito me interessa, não senti afinidade nenhuma com o protagonista e com a história desenvolvida.
    Uma pena!
    Mas fico feliz que a leitura tenha dado certo para você.
    Um Novo Ano repleto de realizações!!
    “Para ganhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.” (Carlos Drummond de Andrade)
    cheirinhos
    Rudy

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    Respostas
    1. Sendo sincero, também esperei mais sobre a ditadura. Eu quero acreditar que as poucas páginas dedicadas foram intencionais, meio que uma forma de deixar aberta um segundo livro onde foque mais o crescimento adquirido de Gilberto, mas num contexto mais inserido na ditadura, entre os "subversivos" (já que Aguinaldo parece ser uma forma de mentor para ele, de certo modo). Tenho quase certeza que aquela citação ao DOI-CODI ainda pode gerar muitas histórias para esse romance.

      Feliz ano novo, Rudy! :)

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  8. Oi, Michel!!
    Realmente deve ser um livro bem interessante, pois a Ditadura Militar foi uma momento bem difícil em que os brasileiros viveram e até hoje muitos sofrem com familiares desaparecidos daquela tempo. E sem dúvida deve ser bem complicado para Gilberto passar a adolescência nesse período. Adorei a indicação.
    Bjoss

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  9. Lua de Vinil parece ser um livro incrível, não cheguei a conhecê-lo antes - o que me surpreende. A capa é chamativa, o dilema moral dentro da história parece ser bem interessante, esse título é maravilhoso... Inclusive estou escutando Pink Floyd enquanto escrevo. Pena o livro ser tão curtinho, a sensação é de que talvez ele não se aprofunde bem em alguns temas. Gostei da entrevista do autor, no entanto. Bjs!

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