No Seu Pescoço - Chimamanda Ngozi Adichie

8 de novembro de 2017

Título: No Seu Pescoço
Autor: Chimamanda Ngozi Adichie
Páginas: 233
Ano: 2017
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Ficção
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota:  
Sinopse: A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie vem conquistando um público cada vez maior, tanto no Brasil como fora dele. Em 2007, seu romance Meio sol amarelo venceu o National Book Critics Circle Award e o Orange Prize de ficção, mas foi com o romance seguinte, Americanah, que ela atingiu o volume de leitores que a alavancou para o topo das listas de mais vendidos dos Estados Unidos, onde vive atualmente. Ao trabalho de ficcionista, somou-se a expressiva e incontornável militância da autora em favor da igualdade de gêneros e raça. Agora é a vez de os leitores brasileiros conhecerem a face de contista dessa grande autora já consagrada pelas formas do romance e do ensaio. Publicado em inglês em 2009, No seu pescoço contém todos os elementos que fazem de Adichie uma das principais escritoras contemporâneas. Nos doze contos que compõem o volume, encontramos a sensibilidade da autora voltada para a temática da imigração, da desigualdade racial, dos conflitos religiosos e das relações familiares. Combinando técnicas da narrativa convencional com experimentalismo, como no conto que dá nome ao livro - escrito em segunda pessoa -, Adichie parte da perspectiva do indivíduo para atingir o universal que há em cada um de nós e, com isso, proporciona a seus leitores a experiência da empatia, bem escassa em nossos tempos.


Resenha:

  Até o momento, as únicas coisas que eu tinha lido da autora eram seus manifestos, que a propósito, são brilhantes. Não tinha me dado a oportunidade de apreciar os seus romances, ensaios e seus contos. Bem recomendado, resolvi dar a chance ao livro de contos No Seu Pescoço, e me pergunto o por que de nunca ter me aprofundado em seus variados gêneros. Estava perdendo tempo!


No Seu Pescoço, lançado originalmente em 2009 e lançado no Brasil apenas esse ano pela Cia das Letras, reuni 12 contos que mostram o choque entre duas culturas, a Nigeriana e a Americana. O enredo dos contos tratam de assuntos como a desigualdade de gênero, a guerra, e principalmente sobre a imigração para os EUA e o preconceito que esses imigrantes sofrem. Chimamanda nasceu em Enugu, Nigéria, e ainda jovem imigrou para os Estados Unidos com uma bolsa de estudos. Por esse motivo ela tem propriedade para tratar do assunto, pois sofreu na pele esse choque de culturas, a estranheza do americano em relação a uma pessoa do continente africano e as suas concepções sobre ela. Mas vamos ser sinceros, nós não estamos longe da concepção dos americanos, nós também achamos que a África é uma coisa só, ou que só tem animais, ou que todo mundo é muito pobre, enfim, é uma ignorância que  muitas vezes é induzida pela mídia. Em vista disso, a leitura desse livro se faz importante, pois apesar de ser ficcional, é de fato um relato sobre a realidade dos continentes africanos, e mais especificamente da Nigéria. Nem todos vivem em extrema miséria, como vai relatar a autora em diversos contos desse livro,  onde seus personagens em sua maioria possuem algum prestígio social, ou estão em busca do seu lugar ao sol que é tão ansiado Green Card . De maneira brilhante a autora expõe uma América antagônica que se julga mais importante que os outros, e que também julga ser mais conhecedora da cultura alheia que a própria pessoa de tal cultura. Aponta também imigrantes que se deslumbram com com o padrão de vida americano e que acabam negligenciando sua própria cultura em prol de uma que lhe é estabelecida.

Adichie não te surpreende apenas por esse choque de realidade, por esse evidente conflito de povos, mas também pela sua técnica de escrita que joga o leitor para dentro da história, fazendo-o vivenciar aquele momento. Um exemplo é um dos meus contos favoritos que intitula o livro. O conto No Seu Pescoço é narrado em segunda pessoa, por isso o leitor acaba se tornando o próprio personagem. A história é de uma menina que se muda para os Estados Unidos para cursar a universidade, contudo umas mudanças em seu destino acaba a fazendo sair da casa do tio, morar sozinha e trabalhar como garçonete. É nesse trabalho que ela conhece um rapaz que ficou encantado por ela, e que fugia completamente dos padrões em que todos acreditavam que ela deveria namorar por ser branco dos olhos verdes. Durante todo o conto temos a luta desse casal com culturas tão diferentes vivenciando na pele todo o preconceito das pessoas ao redor. Os olhares tortos, os sorrisos forçados, os conflitos, é como se você estivesse ali passando por isso. É uma técnica tão simples que te faz trocar de lugar com a personagem e refletir melhor sobre o assunto abordado.

Outro conto que merece destaque é o Jumping Monkey Hill, que narra a história de um grupo de escritores que se reúne em um resort de luxo na Africa do Sul para uma oficina literária. A oficina reuniu diversos escritores de diferentes países africanos, nos recordando mais uma vez que a África não é uma coisa unificada. Tinham então, senegaleses, um queniano, um ugandês, um sul-africano negro e uma sul-africana branca, entre outros representantes do continente africano, e dentre eles a protagonista nigeriana Ujunwa. A oficina era organizada por um inglês chamado Edward que representava a pessoa cheias de esteriótipos sobre a África e que se julgava conhecedor dos costumes e tradições locais. Cada participante tinha que escrever um conto e lê-lo para uma discussão aberta mediada por Edward. Entretanto, Edward dotado de um espírito sobre o que é ou não a África e o que a representa de fato, julga e aponta os "erros" presentes nas histórias. Ujunwa é única que não se deixa abater e nem se inferiorizar com seus conceitos ingleses sobre o que é correto, e segue colocando suas verdades em conto. Além dessa questão sobre identidade, esse conto traz em mente o qual é o papel da literatura na vida de uma pessoa, uma discussão que se torna um embate entre Edward e Ujunwa,  e que estende até a última página, em um desfecho surpreendente.

No Seu Pescoço é um livro maravilhoso, digno de todo sucesso que obteve. Chimamanda é uma autora incrível, que fez um trabalho brilhante em seus outros livros, e com esse não podia ser diferente. Ao ler os contos, somos tomados por uma verdade oculta na sociedade, temos a noção dos nossos próprios conceitos errôneos sobre a África. É ótimo ver a literatura Africana ganhar tanto destaque, conquistar o mundo, como tem feito os livros da autora, mas obviamente Adichie é uma exceção a  regra e isso me traz um sentimento de inconformismo. Temos que buscar por mais literaturas como essas, fugir um pouco da cultura europeia e a americana que nos é tão imposta e dar destaque a uma cultura que se assemelha mais a nossa do que todos nós imaginamos.


         Um grande beijo e Boa Livroterapia! ❤ 

18 comentários

  1. Somente li algumas palavras dispersas pela net sobre a autora, frases que ela sempre faz questão de pronunciar. Nada com exatidão ou que chegasse perto de um conto!
    Mas amo conto, crônicas...ainda mais quando trazem essa realidade crua, tão perto e ao mesmo tempo, tão distante de nós!
    Pensamos realmente que a África é um amontoado de animais e pobreza, por termos preguiça de nos jogar em outras culturas e povos. Aliás, no Egito só tem areia e solidão.
    Adorei tudo que li acima e o livro vai para a listinha de desejados com certeza!
    Beijo

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    1. Muito obrigada pelo comentário e espero que goste da leitura tanto quanto eu gostei. A autora é encantadora!
      Um beijão e boa livroterapia!

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  2. Oi Cinthia!
    Nunca li nada da Chimamanda mas tenho vontade. Não sabia que esse livro era uma antologia, nunca tinha lido a sinopse. Talvez eu comece por esse pq contos são uma ótima maneira de se conhecer um autor.
    Beijos!

    Mais Uma Página

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    1. Oi!
      Obrigada pelo comentário!
      Eu achei que ler os contos dela foi um ótimo começo e só me deixou mais ansiosa pela leitura de suas outras obras. Espero que você também se encante pelos livros da autora.
      Um grande beijo e boa livroterapia!

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  3. Já tinha visto muita coisa boa dela também mas nunca li nada. Ganhei um livro dela e agora quero só ver como é. A autora parece ter uma escrita muito rica e gostei dos temas que ela retrata, as coisas mais realistas e humanas. Tá aí outro livro que seria bem interessante de ler porque os contos parecem passar bem a ideia do que é ser um estrangeiro desse país em outro tão grande. E sim, sei muito pouco sobre o país dela e gostei dessas coisas que ela escreve porque parece abrir a mente da gente e dar algumas informações bem legais. Fica uma coisa intersaante de ler. Acho que iria gostar.

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    1. Oi!!
      Obrigada pelo comentário! Espero sinceramente que goste dos livros da autora tanto quanto eu gostei.
      Um grande beijo e boa livroterapia!

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  4. Olá!
    Segunda resenha que leio do livro que me convence ainda mais á conhecer a história, achei o enredo mto bacana, tá na listinha já!
    Bjs!

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    1. Olá!!
      Obrigada pelo comentário!! Espro que goste desse livro tanto quando eu gostei. A autora é incrível!
      Um grande beijo e boa Livroterapia ❤

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  5. Cinthia!
    Não li ainda nenhum dos livros da autora, mas sempre leio as resenhas e os livros dela trazem sempre polêmicas relevantes e mostra o quanto as realidades são diferentes e crueis.
    E gosto de livro de contos como esse...
    “É prova de inteligência saber ocultar a nossa inteligência.” (François La Rochefoucauld)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA novembro 3 livros, 3 ganhadores, participem!

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    1. Oi!!!
      Obrigada pelo comentário! Se você gosta de livros como esses, vai amar esse. É simplesmente maravilhoso!
      Um beijo e boa Livroterapia ❤

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  6. Vi teu stories ontem e vim procurar a resenha. Pra começo de conversa, você escreve de um jeitinho que também joga a gente dentro da história. Deu pra sentir a emoção que o livro te causou e a mensagem inquietante que te passou! Adoro quando um livro é capaz disso!
    E pra finalizar: quero ler esse livro! ��

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  7. Olá! Confesso que ainda não conhecia nada dessa autora, mas gostei bastante da premissa do livro, por se tratar de contos, acredito que a leitura fique mais fácil, gosto de livros que nos apresente a novas culturas e nos ensine mais sobre o mundo e as pessoas que nos cercam.

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  8. Oi.
    Eu quero muito ler esse livro, em especial por não ter lido nada da autora, assistir uma de suas palestras denominada O problema da história única e confesso que adorei.
    Eu gosto que ela fala na sua obra, do choque cultural e do preconceito.
    O conto que mais me chamou a atenção foi: No seu pescoço, que me chamou muito a atenção, não vejo a hora de conhecer essa obra.
    Bjs.

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  9. Amo ler sobre outras culturas. É muito bom sair da bolha "euroamericana" de vez em quando. Amei a resenha.

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  10. Olá Cinthia
    Só tem um ponto que me incomoda: contos. Não gosto, por mais que sua resenha esteja ótima, e buscando encontrei mais elogios sobre a autora, acredito que poderia ser somente uma história, eu iria gostar mais.
    O interessante é que (acredito eu) a autora achou uma forma mto bonita de chamar atenção para o povo nigeriano e seus costumes, é um ponto positivo para a escrita dela.
    Beijos

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  11. Olá!
    Eu não sou muito de ler contos, mas alguns me agradam pelo fato de ter uma história fofa para contar, como essa por exemplo. Há uma lição nesse livro para ensinar a todos nós, vemos que a sociedade não fica tão atrás assim, com todos esses temas abordado nos contos. Gostei muito dele!

    Meu blog:
    Tempos Literários

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  12. Oi, Cinthia!
    Gosto de contos por isso que fiquei interessada em No Seu Pescoço de cara, mas achei também interessante os assuntos abordados pela autora  - desigualdade de gênero, e a imigração para os EUA e o preconceito que esses imigrantes sofrem... - e acredito que irei gostar mais do conto No Seu Pescoço...
    Enfim, valeu pela dica, já anotei na minha lista de leitura! Abraços.
    Ps: que capa linda! 😍

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  13. Quero muito ler esta obra desde do dia que li a primeira resenha a respeito deste livro, pois posso dizer que o mundo precisa desse choque de realidade, para percebemos que o preconceito racial ainda esta instaurado, e não e só no Brasil, mas no mundo inteiro. E os refugiados, ou não que vão para os EUA, e quem mais sofre. Gostei muito da premissa do livro, e pretendo sim ler a obra.

    SORTEIO NO AR, VENHAM PARTICIPAR: http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/

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