A Metade Perdida - Brit Bennett

25 de maio de 2021

Título:
 A Metade Perdida 
Autor: Britt Bennet
Páginas: 340
Ano: 2021
Editora: Intrínseca 
Gênero: Romance, Drama
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota:    
Sinopse: As irmãs Vignes são gêmeas idênticas. Quando, aos 16 anos, resolvem fugir de casa, elas não fazem ideia de como isso vai alterar suas trajetórias. Mais de uma década depois, uma delas volta para a cidade natal — uma comunidade negra no sul dos Estados Unidos obcecada por novas gerações de pele cada vez mais clara —, e o choque não poderia ser maior. Porque ela não apenas chega sem a irmã, mas com uma criança. Uma criança de pele muito escura. Para as gêmeas, a separação não significou apenas o rompimento de um laço sanguíneo. Elas se encontram em pontos muito distantes em uma sociedade racista: enquanto uma se casa com um homem negro e é obrigada a retornar ao lugar de onde escapou tantos anos antes, a outra é vista como branca, e o marido branco não faz ideia de seu passado. Ainda que separadas por milhares de quilômetros — e incontáveis mentiras —, o destino das duas permanece interligado. E o que acontecerá quando os caminhos de suas filhas acabarem se cruzando também?

Resenha:



Hey pessoas! Hoje eu trouxe para a conversa do café esse lançamento incrível da editora Intrínseca. A Metade Perdida chegou agorinha aqui no Brasil e gente, eu senti o impacto dessa obra. 

Na história, conhecemos Dasiseé e Stella, irmãs gêmeas que aos dezesseis anos resolvem fugir da pacata cidade de Mallard para conhecer o mundo. Mallard é uma típica cidade interioriana, mas possui uma característica marcante: seus residentes são negros de "pele clara" (e eles possuem muito orgulho disso). 

As inseparáveis irmãs acabam tomando rumos diferentes com o passar do anos. Desireé é obrigada a voltar para a casa da mãe juntamente com sua filha, a qual é fruto de um relacionamento com um homem negro e carrega o fenótipo do pai em seu tom de pele. 

Stella, por sua vez, decide que viver como uma mulher branca só pode trazer benefícios para sua vida, e usando sua pele mais clara ela acaba se casando com um homem branco que não faz ideia de suas raízes afrodescendentes. as quais ela está disposta deixar no passado. Mas vai ser difícil quebrar esse laço quando as filhas das gêmeas se conhecem e começam a questionar o que lhes foi dito a vida toda. 

1,2,3 RESPIRA. Foi esse mantra que eu fui repetindo durante a leitura, porque Brit Bennet nos entrega uma história tão bem construída e ao mesmo tempo tão dolorosa que não tem como não ficar sensibilizado e FRUSTRADO com o mascaramento do racismo. 

Esse foi o meu primeiro contato com o colorismo, uma experiência extremamente enriquecedora (para saber identificar e combater né). Para os não familiarizados, vou deixar uma pequena descrição bastante precisa que eu peguei do site Politize.

"Colorismo é um termo utilizado para diferenciar várias tonalidades da pele negra, do tom mais claro ao tom mais escuro. Essas tonalidades da pele negra também permitem a inclusão ou a exclusão na sociedade. É uma forma de preconceito com pessoas da mesma raça, que são tratadas diferentemente com base na tonalidade de sua pele."

 

É com base nesse conceito que a autora nos introduz às tramas de Desireé e Stella. Desde cedo as meninas aprenderam que ser uma pessoa negra era sinônimo de temor, principalmente se levarmos em consideração que nas décadas de 50/60 o racismo era escancarado nos Estados Unidos, com segregações e muita violência. Nesse sentido, por que não aproveitar a cor de pele mais clara para obter privilégios? 

"Uma cidade para homens como ele, que nunca seriam aceitos como brancos, mas que se recusavam a ser tratados como negros." 

Vemos que as duas protagonistas, por conta de suas escolhas, precisam encarar as consequências de deixar sua cidade natal e, de certa forma, negar as suas origens. Mas confesso que por um lado eu entendi as meninas, porque sempre falaram para elas que elas eram privilegiadas por serem mais claras, porém, ao permanecer em Mallard, elas viam que nunca conseguiriam ter o que os brancos tinham. 

"A única diferença entre mentir e atuar era se o público estava participando ou não da farsa." 

Desireé nunca conseguiu perdoar Stella por ter se separado dela em Nova Orleans (elas foram pra lá depois de fugir de Mallard) e a volta para a pequena cidade de sua infância se torna uma jornada de aceitação, até porque as coisas não ficaram bem com a mãe das gêmeas. 

"Com o tempo, a lembrança se transformaria em imaginação. A diferença entre as duas coisas era tênue." 

Além disso, por meio de sua filha de pele escura, a personagem finalmente começa a perceber como os negros continuavam sendo discriminados. Desireé passa a compreender como o colorismo cria uma falsa inclusão para as pessoas negras, distanciando os integrantes de uma cultura porque enquanto uma pessoa de pele mais escura é rechaçada física e socialmente, outra de pele mais clara consegue se inserir na sociedade e obter certos privilégios, como arrumar emprego por exemplo. 

"Ah verdade - acrescentou o mais velho - Está por aí vivendo muito bem como se fosse uma madame branca." 

Mas as minhas partes preferidas do livro foram de Stella. Coberta de arrependimento, Stella encara as dificuldades de fingir ser uma pessoa que não é. Ao se passar por uma mulher branca, a gêmea passa a sentir falta de sua cultura, cultura esta inferiorizada pelas pessoas brancas com as quais ela passou a conviver depois de abandonar Desireé.

"Talvez, com o tempo, fingir ser branca a tenha deixado branca mesmo." 

Igualmente aprofundada é a caracterização de June e Katherine, filhas de Desiree e Stella, respectivamente. É por meio dessas duas personagens que as vidas das gêmeas se reconectam, e percebemos que as primas possuem opiniões e posicionamentos muito diferentes, afinal uma é branca e cresceu com o luxo que o dinheiro pode oferecer, enquanto a outra é negra e passou dificuldades ao ser criada pela mãe solteira. 

"Na escuridão, ninguém era tão preto assim, Na escuridão, todo mundo tinha a mesma cor." 

O livro ainda reserva espaço para romance, e não posso deixar de mencionar a representatividade presente na história, ainda mais enriquecedora quando se mistura com aspectos da cultura negra. Embora se trate de uma leitura densa e, de certa forma, delicada, a autora conseguiu equilibrar bem o drama, fazendo com que a experiência seja muito agradável. 

"Imagine só perder uma irmã gêmea. Deve ser como perder uma metade de si mesma." 

Por tudo isso, nem tenho mais elogios pra fazer né, senão eu começaria a soar redundante. Mas A Metade Perdida é um daqueles livros que nos marcam profundamente. Britt Bennet acertou o que mirava ao enfatizar, por meio de uma trama visceral e realista, que o colorismo nada mais é do que um sistema velado de discriminação racial, que não deve ser normalizado. 

Até a próxima resenha! 

8 comentários

  1. Sem dúvida, um dos melhores livros que o Intrínsecos lançou.
    Com uma temática forte, que ensina e mostra uma realidade até então desconhecida pela grande maioria.

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  2. Esse livro chegou arrasando corações e até o momento, não li nada que deixasse ao menos um ponto ruim na obra.
    Trazer isso do colorismo,tão pouco falado(e que deveria sim) foi uma jogada linda e necessária a todos os leitores.
    Não é apenas o racismo, o esconder a origem, as mentiras passadas a outra geração,mas é a família se vendo em meio a tudo isso.
    Por mais diferenças que se tenha, há os laços de sangue e nesse não tem diferença de cores.
    Com toda certeza do mundo, é um livro que já preciso ler e sentir.
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  3. Olá
    Um livro muito elogiado .A autora soube trouxe no enredo toda essa questão do colorismo que é um termo que estamos aprendendo agora .
    Náo podemos esquecer que ainda o racismo ainda existe infelizmente.
    Gostei muito da sua colocação Alison .

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  4. Alison!
    Chocante só de saber que dentro da própria raça negra, existe preconceito de quem é mais claro ou mais escuro, credo!
    Já tinha escutado falar sobre colorismo, porém achei um absurdo, mas pelo visto, pelo menos na ficção, ela existe.
    A redenção deve ser o ápice do livro.
    cheirinhos
    Rudy

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  5. Que pérola hein? Tão bom achar um livro que vai te tocar, que vai fazer você refletir e que no fim vai virar uma favorito. Que maravilha essa sua resenha, inspira a conhecer essa obra :)

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  6. Olá! Olha, nem consigo imaginar minha vida sem minha gêmea do meu lado e a sinopse e a resenha já me deixaram aqui com o coração apertadinho em relação a essa leitura, ainda mais trazendo um tema tão pouco discutido, mas de grande importância.

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  7. Olá,

    Cara, não sabia da existência desse livro, mas agora só sinto que PRECISO ler!
    é um tema ainda não muito abordado, e já sei que vai ser bem interessante acompanhar as irmãs que seguiram caminhos diferentes e tentando entender tudo que aconteceu!

    BEIJOS

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  8. Oii,
    Nossa, que história!
    Ai o racismo é terrível e ver as pessoas passando por isso, ter que negar a si mesmo pra tentar ter o mesmo respeito e oportunidades que os brancos têm é terrível.
    Vai pra lista!
    Bjs

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