O Desfiladeiro do Medo - Clive Barker

27 de novembro de 2020

Título:
 O Desfiladeiro do Medo
Autor: Clive Barker 
Páginas: 700
Ano: 2002
Editora: Bertrand Brasil 
Gênero: Terror 
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota:   
Sinopse: O Desfiladeiro do Medo é um livro sem paralelo: uma descrição implacável e irresistível de Hollywood e seus demônios, contada com um estilo cru e o poder narrativo que transformaram os livros e filmes de Clive Barker em fenômenos mundiais. Hollywood transformou Todd Pickett em um astro. O tempo, porém, está lhe cobrando um preço por isso. Ele não tem mais o rosto perfeito do ano anterior. Após uma cirurgia malfeita, Todd precisa de um lugar onde possa esconder-se durante algum tempo, enquanto as cicatrizes desaparecem. Querendo ser momentaneamente esquecido instala-se em uma mansão no Coldheart Canyon, um recanto da cidade tão secreto, que sequer consta nos mapas. Tammy Lauper, presidente de seu fã-clube, chega à cidade de Los Angeles decidida a solucionar o mistério do desaparecimento de Todd. Lá chegando, descobre segredos a respeito do Coldheart Canyon: os espíritos da "Lista A" dos astros e estrelas falecidos de Hollywood que vieram participar de orgias no canyon...

Resenha:

Muita, mas muita viagem...

Saudações leitores! Hoje trago resenha de um dos diretores cinematográficos mais cultuados de Hollywood: Clive Barker. Por trás do clássico Hellraiser que roubou as noites de sono de muita gente (pesquisem e vocês vão saber o por quê rsrsrsrs), Barker também possui obras literárias de terror que chamam a atenção de qualquer amante dos gênero, e eu, curioso que sou, embarquei nesta experiência digamos...impactante.

O Desfiladeiro do Medo conta a história de Todd Pickett, um ator que já esteve no auge da carreira mas que atualmente vem perdendo o interesse do público e da indústria do cinema, que já não está tão disposta a fazer filmes tendo-o como protagonista.

Após realizar uma cirurgia mal sucedida para rejuvenescer, Todd, com medo de a notícia vazar à mídia sensacionalista, se esconde em uma mansão com ares góticos na região de Los Angeles conhecida como Cold Heart Canyon, ao passo que sua fã número um, Tammy Lauper, percebe que alguma coisa está errada e se torna determinada a encontrar o astro do cinema. De diferentes formas, os dois personagens percebem que a mansão do desfiladeiro nada mais é do que um portal secular para a Terra do Demônio, repleto de horrores e criaturas interdimensionais.


Preciso dizer que a leitura desse livro foi uma surpresa incrivelmente bizarra. Apesar da excelente mitologia que é desenvolvida pelo autor para nos apresentar a Terra do Demônio e a maldição que assombra o local há muito tempo, é necessário muito estômago para conseguir terminar a leitura, pois trata-se de uma obra que explora os desejos mais sombrios e depravados dos astros e atrizes que foram aprisionados no local. 

"Havia um som, entre a apavorante orquestração de gemidos e estrondos que perpassavam por toda a casa, mas profundo que todos os demais e que parecia vir diretamente de um ponto debaixo deles". 

Em muitos momentos, tive que pausar a leitura pelo forte conteúdo de suas páginas, e acredito que no quesito de nos deixar desconfortável a obra obtém êxito. Contudo, alguns leitores podem se decepcionar pela falta de um terror mais "clássico", pois Clive direciona o foco para a construção do mundo e das criaturas e almas reféns do poder do desfiladeiro, de modo que a obra soa mais chocante do que assustadora. 

Quanto aos personagens, Todd é um protagonista cheio de camadas e amargurado pela efemeridade da carreira artística. Pelos seus pontos de vista, somo apresentados à Hollywood verdadeira, que não é nem um pouco glamurosa. Percebemos também a crítica escancarada ao fato de que neste mundo do cinema tudo gira em torno das aparências. Tammy, a fã obcecada, não fica muito para trás, e várias vezes nos identificamos com a personagem e seus esforços para encontrar seu amado ator, sem contar que as partes dela são engraçadas e cheias de ironia.

"E claro, havia a possibilidade remota de que Todd tivesse sobrevivido e conseguido voltar lá para cima. Essa, mais do que qualquer outra, era a razão de sua volta". 

Ademais, gostei imensamente de Tammy não ser uma mulher construída sob os padrões de beleza usuais. A personagem, além de determinada e inteligente, é descrita como acima do peso e percebemos como o autor quis trabalhar essa questão da pressão pelo corpo perfeito. E falando em representatividade, temos espaço também para personagens homossexuais, o que é ótimo pois não vemos muito esse tipo de abordagem em livros do gênero.

"Era tão grande o número daqueles espíritos famintos, e tão estreita a porta por onde tentavam passar, que a impaciência deles logo chegou ao ponto de ignição. Discussões transformaram-se em ataques físicos, os mais fortes empurrando os mais fracos para que pudessem ser o primeiros a descer a escada, os primeiros a cruzar o portal que os levaria à Terra do Demônio". 

Por outro lado, embora os personagens sejam trabalhados de forma gradual e minuciosa, sendo possível perceber a evolução dos mesmos no decorrer das páginas, alguns aspectos me incomodaram no decorrer da leitura. O livro poderia facilmente ter duzentas páginas a menos, pois soa descritivo sem necessidade em algumas passagens, e por mais que seja interessante conhecer uma produtora de cinema, não precisamos de uma aula de mestrado sobre as particularidades sobre o que configura um filme rentável.

Outro ponto que levanta dúvidas acerca do estado psicológico do autor quando escreveu a história (LSD? Ecstasy?) é o excesso de cenas de sexo, que se alastram por páginas sem fim, num nível de bizarrice sem igual. Talvez o objetivo fosse mesmo chocar o leitor e fazê-lo entender que muitas das criaturas vítimas da maldição perderam o conceito de “limites”, porém acaba ficando bem vulgar e exagerado.  

Mas de modo geral, O Desfiladeiro do Medo se configura como um livro bastante original e que se diferencia por tratar em grande parte a grandiosidade dos aspectos sobrenaturais ao invés de sustos convencionais. Por mais que soe cansativo e lento em alguns momentos, vale a pena dar uma chance para a escrita criativa do autor.

Até a próxima resenha! 

14 comentários

  1. Cliven diretor é uma coisa, agora autor, eu fiquei conhecendo agora rs
    Primeira resenha que leio desse livro e já não sei dizer se gostei ou se torci o nariz.
    Parece que há um excesso de tudo, em todo o enredo meio insano e fora do contexto geral.
    Tá, eu sou curiosa ao extremo e não, não descarto ler de forma alguma, apesar de ter ficado assustada com a quantidade de páginas!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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    1. Angela, obrigado pelo comentário!
      Mulher, foi exatamente essa curiosidade que me vez iniciar de vez a leitura. Assim, pra quem gosta de personagens bem desenvolvidos a obra com certeza não vai decepcionar.
      Beijos.

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  2. Eu adoro um suspense/mistério, mas terror nunca peguei para ler por ser medrosa demais. Uma pena o livro não ter te agradado tanto! As vezes parece que alguns autores escrevem meio alterados pra sair esse tipo de coisa mesmo hahhah.
    Beijos

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    1. Amanda, obrigado pelo comentário!
      Um beck pelo menos esse homi fumou pra sair essa história, tenho certezaaaaaaaaaaaaa.
      Beijos.

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  3. Fiquei um pouco chocada com a quantidade de páginas, acho que esse ano o livro mais longo que eu li foi Sol da Meia-Noite, mas raramente encaro um tão grande KKKK
    Outra questão também é que eu não sou adepta aos livros de terror, filmes e séries tenho mais conhecimento. Mas fiquei muito impressionada com a resenha, achei que trouxe aspectos incríveis do livro, a verdade mesmo daquilo que a gente vai encontrar na leitura. Acho que já estamos bem avisados, agora é saber se a coragem deixa HAHAHA

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    1. Bruna, obrigado pelo comentário!
      Que bom que os pontos positivos te deixaram no mínimo intrigada para conhecer a obra.
      Beijos.

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  4. Nao tinha ouvido falar desse livro, mas achei bastante interessante. Me lembrou um pouco misery do stephen king a pegada da fã fanatica. Curti!

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    1. Ariela, obrigado pelo comentário!
      Nossa, acredita que eu não tinha feito essa conexão? Mas a Tammy pelo menos passa longe de ser tão psicótica quanto a Annie Wilkes.
      Beijos.

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  5. Sim! Clive é um grande diretor mas não conhecia seu lado escritor!
    Por mais que fuja e muito do que curto ler, a premissa é bem original. E os persongens foram bem desenvolvidos

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  6. Tá aí um livro que li tem muito tempo atrás e apesar de não ter me sentindo incomodada com o tamanho dele, também achei exagerado as cenas com conteúdo sexual bizarro, contudo acho que foi a intenção do Clive mostrar o exagero dos vícios e desejos bizarros que cercam o pretenso glamour Hollywoodiano!

    Gosto desta obra, mas não é a minha favorita do Clive!

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  7. Alison!
    Já ia perguntar que tanto assunto tem em 700 págs, mas explicou bem direitinho e bem que poderia ser mais enxuto, né?
    Acho importante vermos a natureza humana e como isso afeta nosso psicológico, talvez por esse fato, espero poder um dia ler esse livro.
    cheirnhos
    Rudy

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  8. Olá! Confesso que não consegui ligar o nome aos seus trabalhos, mas isso pode ter acontecido pelo fato de não curti muito o gênero, então para mim, o livro e autor são totalmente desconhecidos e ao ler a resenha, tenho quase certeza que permanecerão assim (risos). Não é o tipo de leitura que me agrada, ainda mais com tantas páginas assim.

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  9. Oi, Alison
    IIIh, não é pra mim.
    Achei a história meio confusa, embora traga algumas reflexões também.
    E esses excessos de cenas hot realmente acho muito apelativo e cansativo.
    bjs

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  10. Sinceramente não sei se conseguiria ler esse livro algum dia. A resenha ficou ótima como sempre, muito bem explicativa, mas para mim, essas 700 páginas não me encantaram, infelizmente.

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