Máquinas como Eu, E gente como vocês – Ian McEwan

19 de agosto de 2019

Título: Máquinas como Eu, E gente como vocês 
Autor: Ian McEwan
Páginas: 328
Ano: 2019
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Ficção Científica, Literatura Estrangeira.
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota: 
Sinopse: Londres, 1982. A Grã-Bretanha perdeu a Guerra das Malvinas. A primeira-ministra Margareth Thatcher tem seu poder desestabilizado ao ser desafiada pelo esquerdista Tony Benn. O matemático Alan Turing vive sua homossexualidade plenamente e suas contribuições para o avanço da tecnologia permitiram não só a disseminação da internet e dos smartphones como a criação dos primeiros humanos sintéticos, com aparência e inteligência altamente fidedignas. É nesse mundo que Charlie, Miranda e Adão -- o robô que divide a vida com o casal -- devem encontrar saída para seus sonhos e ambições, seus dramas morais e amorosos. O novo romance de Ian McEwan desafia nosso entendimento sobre humanos e não humanos e trata do perigo de criar coisas que estão além de nosso controle.

Este livro foi cedido pela Editora Companhia das Letras, porém as opiniões são completamente sinceras. Não sofremos nenhum tipo de intervenção por parte da Editora. 




Resenha:

“... no momento em que não pudéssemos notar a diferença no comportamento de uma máquina e de uma pessoa, caberia então atribuir humanidade à máquina.”

O novo romance de ficção cientifica do autor inglês Ian McEwan, lançamento da Companhia das Letras nos leva a uma jornada onde o debate sobre os avanços científicos e que o que isso significa para a humanidade. Em um mundo muito parecido com o nosso, porém, com mudanças que vão desde algo sutil como o fato de Lennon estar vivo e os Beatles estarem lançando um novo álbum com orquestra, ao fato de que a tecnologia está de tão avançada em um aspecto que possibilita a existência de um androide tão perfeito que redefine o que podemos considerar o que é a humanidade.

Charlie é o protagonista humano desse livro, ao receber uma herança, ele resolve contrariar o que se esperava ser o mais seguro – adquirir uma casa própria, estabilizar sua vida etc... – e adquiri Adão, um dos vinte cinco androides recém lançados no mercado. Doze Adão E Treze Evas, sua primeira escolha era gastar toda a sua herança em uma Eva, mas elas acabaram muito rápido.
Com isso ele leva seu Adão para um modesto apartamento em uma Londres um pouco decadente.
E ai começa sua grande aventura, ao chegar ele liga ele pela primeira vez, e durantes às doze horas de carga que ele necessita antes de acordar, ele já começa a ponderar se fez o certo. Porém, a criança fã de tecnologia, antropologia e outras ciências que vive dentro dele vence, e logo ele se permite levar pela ansiedade.

“Não vi nenhuma mudança em Adão ao passar raspando por ele a caminho da geladeira, onde havia meia garrafa de um Bordeaux branco. Sentei-me à frente dele e ergui o copo. Ao amor. Dessa vez, senti menos ternura. Vi Adão pelo que era, um artefato inanimado cujas pulsações correspondiam a uma descarga elétrica regular, cuja pele quente se devia apenas a uma reação química. Depois de carregadas as baterias, algum tipo de roda de balanço microscópica abriria seus olhos. Ele pareceria me ver, mas de fato seria cego. Nem mesmo cego. Ao ser ativado, outro mecanismo daria a aparência de respiração, mas não de vida. Um homem recém-apaixonado sabe o que é vida.”




Adão deve ser programado por seu dono, essa programação é que vai definir humor, comportamento e o tornar o mais humano possível, para isso Charlie resolve que deve chamar Miranda, sua vizinha por quem logo ele se descobre apaixonado, para dividir com ele a programação.
Ele preenche metade dos questionários, e ela a outra metade sem ambos conhecerem as respostas do outro.
 “A eletrônica e a antropologia, primos distantes que a modernidade aproximou e uniu em matrimônio. O filho desse casal era Adão.”

Ao despertar Adão ainda sem programação parece suficiente humano por fora, mas ainda falta algo nele, é apenas somente após a programação em conjunto de Miranda e Charlie que sua personalidade vai se moldando, isso é ao convívio com o casal.

As complexas dinâmicas entre eles é algo fascinante de se ler. Tanto Charlie quanto Miranda possuem personalidades diferentes em muitos aspectos e que estranhamente se combinam, ela possui um segredo, ele está desesperado para ter um vinculo real com alguém, e nisso tudo Adão está crescendo emocionalmente e intelectualmente.




É com essa trama de fundo que temos como base para a história principal.
O que define a humanidade de uma pessoa? A capacidade de sentir? Amar? Odiar?
Adão possui a aparência de um homem, e foi feito para se portar fisicamente como um humano, porém, sua mente infinitamente superior ao homem comum, o torna capaz de aprender tudo ao seu redor, e criar uma resposta a tudo. A ciência tornou o sonho de Mary Shelley real, criou vida de algo inanimado.

Conforme Adão, desenvolve a capacidade de sentir, isso nos leva aos grandes dilemas morais. Se ele é capaz de sentir, é justo ele não ter direitos? Tendo sentimentos, sendo capaz de pensar por si próprio, ele ainda deveria ser considerado um bem de consumo de outra pessoa? Algo que pertence a alguém, mas sem direito algum?
Que sentimentos ele pode vir a ter? Amar alguém é possível?

“– Não posso evitar meus sentimentos. Você tem que me permitir meus sentimentos. Refleti por alguns instantes.
– Você realmente sente alguma coisa?
– Esta não é uma pergunta que eu possa…– Responder– Sinto as coisas profundamente. Mais do que sei dizer.– Difícil de provar – retruquei.
–Verdade. Um velho problema.”

Esses dilemas já foram debatidos em diversos livros, artigos científicos e até mesmo na sétima arte.

E assim, como no talvez, um dos filmes que mais mexeram comigo na infância – o homem bicentenário – maquinas como eu, me fiz não só pesquisar as informações – aliás, o autor bombardeia varias teorias para nos fazer parar e pensar sobre elas – mas me fez, ponderar muito sobre isso: O que nos torna humanos?

Essa realidade talvez, não esteja tão perto de acontecer, um androide tão perfeito como no livro, mas ela definitivamente não é impossível.

No livro desde os direitos dos androides somos levados a pensar no impacto para a sociedade. Será que a criação dessa tecnologia irá desestabilizar tanto assim a humanidade? Ameaçando um colapso nas vagas de emprego e ameaçando até mesmo os relacionamentos tradicionais entre humanos biológicos?
Muito a se pensar.

“Com as mãos nos quadris, se inclinou para trás como se doesse à parte de baixo da coluna. Respirou fundo para indicar sua apreciação do ar noturno. E então, assim sem mais nem menos, disse: “Visto de certo ângulo, a única solução para o sofrimento seria a completa extinção da humanidade”.”

Eu particularmente, amo livros que além de nos trazerem o prazer da leitura, já que a história desse livro além de tudo o que falei, possui seus próprios dramas humanos, até mesmo mistérios a serem desvendados e relacionamentos a serem construídos. Ele trouxe um tema muito interessante para debater entre amigos.

E apesar de não esperar um final de contos de fadas, estava longe de imaginar o quão agridoce foi o final do livro, porque quão mais humanos os Adão e Evas pelo mundo se tornavam, tristezas muito humanas foram surgindo para eles, e não pude deixar de sofrer por eles.

“Em Vancouver há outro caso, um Adão que avariou seu próprio software para se tornar extremamente ignorante. Ele executa ordens simples mas, tanto quanto se possa saber, sem nenhuma autoconsciência. Um suicídio fracassado. Ou um desengajamento bem-sucedido.”



Indico para quem curte ficção científica e um bom drama humano. Humano em todas as possíveis variações possíveis.

Definitivamente o autor tem ganhado um espaço nas minhas leituras.
Este livro é lançamento da Companhia Das Letras, que mais uma vez, trouxe uma linda edição. A capa além, de muito bonita é toda cheia de detalhes em relevos. A tradução foi excelente, os termos mesmos tecnológicos foram muito bem delineados de uma forma muito clara, e mesmo uma leiga como eu, entendi tudo. O que mostra a escrita fluida do autor e o talento do tradutor.

Quem puder não deixe de conferir. Até a próxima.

“Nossas folhas tombam
Mas um dia voltarão.
Vocês caem de vez.”

Curiosidades
Adão gosta muito de poesia, vejam o poema dele acima, especificamente um estilo japonês chamado haicai que consiste em três versos, sendo que normalmente seguem essa ordem: primeiro verso 05 sílabas, segundo verso 07 sílabas e terceiro 05 silabas novamente.

Como sou uma fã do estilo vou deixar um haicai que gosto muito aqui.

Essa é a vida que eu quero,
Querida, encostar na minha
A tua ferida.
Na minha a tua ferida, Paulo Leminski - Companhia das Letras.



8 comentários

  1. Puxa, fiquei lendo a resenha acima e me perguntando se viverei para ver tudo isso de verdade daqui um tempo. Sei lá, é tanta tecnologia que penso que não estejamos muito distantes disso tudo não.rs
    Apesar de não conhecer o trabalho do autor, confesso que fiquei curiosa demais em relação ao enredo. A humanidade pode até criar tudo, desde coisinhas simples até um Adão tão real como este. Mas os sentimentos, onde ficam? O lado humano, o sentir, o admirar, o viver esta vida?
    Puxa, dá para ficar divagando por horas!
    Sei que quero muito saber como tudo termina, se é que termina..rs
    Vai para a lista de desejados com certeza.
    Beijo

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    1. Oieee
      Sim, o livro nos faz ficar muito reflexivo. Por um lado desejo ver a tecnologia dar esse avanço por outro não imagino o ser humano preparado para lidar com tudo o que isso pode trazer.
      Espero que possa o ler em breve. Uma ótima leitura mesmo 😘

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  2. Olá! É muito bacana quando um livro consegue nos envolver tanto assim, realmente é um tema que nos permite muita reflexão, o que afinal nos torna humano é uma questão pra lá de profunda e complexa, ainda não conheço a escrita do autor, mas fiquei bem curiosa, mesmo não sendo tão fã assim do gênero.

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    1. Oi Elizete
      O autor realmente tem um talento incrível para trazer temas profundos para o nós os dia a dia.
      A leitura pode ser densa, mas vale a pena.

      Beijos

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  3. Oiii ❤ Uau, que trama! Achei muito original todo esse enredo criado pelo autor, nunca li nada do tipo, então estou muito curiosa acerca dessa obra.
    Gostei bastante também dessa reflexão de "O que nos torna humanos?" Essa é uma questão muito atual e pertinente a nossa realidade, já que nossa sociedade está cada vez mais tecnológica.
    Isso de "Será que as máquinas podem realmente ter sentimentos" é algo a se pensar. E se elas têm sentimentos, elas precisam de direitos? Muita coisa para refletir.
    Beijos ❤

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    1. Oi Rayane
      Foi exatamente isso que mais chamou minha atenção
      Um tema complexo porém muito atual como você disse.
      Um livro que me fez pensar muito.
      Beijos

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  4. Olá! Não sou muito fã de ficção científica, mas esse livro chamou bastante a minha atenção. Até agora só li resenhas positivas sobre ele, espero fazer essa leitura em breve.
    Achei muito interessante o livro tratar sobre os avanços científicos e as consequências dos mesmos. Um tema de extrema relevância, tendo em vista a era tecnológica cheia de avanços em que vivemos.
    Gostei desse questionamento que o autor faz, de que o que de fato nos torna humanos. É algo para se pensar, com certeza.
    Obrigada pela indicação! Beijos! ♡

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    1. Oi Rayssa
      Realmente são questionamentos muito importantes e porque não dizer muito reais em nossa atual sociedade.
      Vale muito a pena ler.

      Beijos

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