O Mau Exemplo de Cameron Post - Emily M. Danforth

23 de maio de 2018

Título: O Mau Exemplo de Cameron Post
Autor: Emily M. Danforth
Páginas: 448
Ano: 2018
Editora: HarperCollins
Gênero: New Adult, Literatura LGBT, Literatura Estrangeira
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Submarino | Amazon | Americanas
Nota:  
Sinopse: Quando os pais de Cameron Post morrem em um acidente de carro, a primeira coisa que ela sente, para sua própria surpresa, é alívio. Alívio que eles nunca vão precisar saber que, algumas horas antes, ela estava beijando uma menina.

Mas o alívio não dura, e Cam é forçada a morar com sua tia ultraconservadora e sua bem-intencionada mas antiquada avó. Ela sabe que, daqui em diante, tudo será diferente. Sobreviver nessa pequena cidade rural de Montana exige que Cam finja ser igual a todo mundo e evite assuntos indelicados (como diria sua avó), e ela é boa nisso.

Até que Coley Taylor chega à cidade. Coley é perfeita, e tem um namorado perfeito para completar. Ela e Cam forjam uma amizade intensa, que parece deixar espaço para algo mais. Mas assim que isso começa a parecer possível, a religiosa tia Ruth decide que é hora de “consertar” sua sobrinha, a mandando para God’s Promise, um acampamento de conversão que deve “curar” sua homossexualidade. Lá, Cam fica frente a frente com o custo de negar quem ela é – mesmo que ela não tenha certeza que sabe realmente quem é.

O mau exemplo de Cameron Post é uma estreia literária inesquecível e impressionante sobre descobrir quem você é e ter a coragem de viver de acordo com suas próprias regras.

Resenha:

Cam é uma menina de 12/13 anos de idade, que está naquela fase de descobertas e paixões da pré adolescência. E tudo isso seria visto com normalidade, se esses sentimentos não fossem manifestados por outra menina. E acho que ESSA é a primeira crítica que o enredo apresenta.

De forma muito sutil, a autora apresenta as experiências, dúvidas, medos e desejos de Cam sem hipersexualizar ou romantizar seu contato com meninas e achei isso muito atencioso e bem colocado, pois o foco do livro não era escrever um romance hot gay!

Cam entra num ciclo de descobertas, negação e aceitação, tentando se encaixar e aceitar a imposição do padrão social e religioso, negando que se sente incrivelmente confortável fazendo parte do grupo dos meninos e descobrindo que seus sentimentos por meninas, por uma ou duas em especial, é um tanto forte demais.

Numa época sem Neftlix, sem referências sociais e sem seus pais pra ajudar, Cam busca nos filmes da locadora, a forma certa de agir para seu “problema”, o que acaba bagunçando ainda mais suas ideias, levando-a acreditar cada vez mais que a perda dos pais foi uma forma de punição de Deus.

Enquanto lida com todas as dificuldades comuns da idade, a jovrm se adapta a nova rotina com tia Ruth, que por outro lado se esforça para viver alegre e contente como num comercial de margarina, mesmo que o mundo esteja caindo em sua cabeça e sobrinha órfã esteja cada vez mais distante dela.

Achei Ruth imatura e dedicada, como a maioria dos adultos, nós nem sempre temos o controle da vida e fiquei a leitura inteira esperando que em algum momento ela se descontrolasse.

A autora foi bem acertiva com a apresentação dos diálogos, pois não traz um pensamento pronto sobre os personagens, deixando a cargo de nossa própria compreensão ou incompreensão, o que cada personagem vai representar. Vilão? Mocinho? Bonzinho? Malvadinho?


Pra mim, a história está alem disso, além de lados. Uma história sem pretensão de “felizes para sempre”, que tem intuito de fazer o leitor refletir sobre suas próprias atitudes, flexibilizando para que a roupagem de todos os personagens nos caiba, caso exista vontade de realizar o exercício de se colocar no lugar do outro.

E nesse clima, por maior que seja a critica social, senti muita pena de Ruth, mesmo que ela tenha errado em mandar Cam para um projeto de Cura Gay. E fica a pergunta, existe essa cura? A inflexibilidade sobre a aceitação do que o outro é, é uma forma de amor? É uma forma de amar a Deus?

Inevitavelmente, Cam também erra bastante e diferente do que pode parecer, a autora não incentivou a “sexo, drogas e rock and roll”, mas mostra explicitamente todas as fases de negação e as atitudes destrutivas da personagem. E isso, em muitos momentos, fez com que eu sentisse que estava lendo uma história real. Esse fato foi palpável, e mais tarde vim descobrir que autora espelhou alguns personagens em si. Ponto pra ela!

A história possui referências cinematográficas, literárias e musicais bem interessantes, apesar de se prolongar em alguns trechos que não influenciam a constância do enredo, sendo um tanto cansativo pra mim, gostei muito de tudo o que li e recomendo essa leitura para todos.

Um livro cheio de mensagem pra passar, que levanta a bandeira LGBT sem glamour, que mostra o lado que ninguém vê, ambientado na década de 90 sangrando preconceito, que questiona a religiosidade como forma de se esconder atrás de dogmas para atingir, moldar e padronizar uns aos outros, que mostra ao mesmo tempo a importância da fé, do amor, do respeito, da amizade, da compreensão e da necessidade de perdoar para recomeçar.

Se esse não for um apelo de amor e respeito, eu não sei o que pode ser afinal...

“Deus nos deu asas. As religiões criaram as gaiolas.” - Rubem Alves


Bjs e boa leitura :*




16 comentários

  1. Ultimamente estou lendo bastante livros com toque LGBT. Eu fico feliz quando os vejo ganhando espaço na literatura porque assim aqueles que fazem parte da dela, não se sintam sozinhos. Eu vi este livro em algum lugar, não lembro onde, mas como de costume, me interessei a partir da Sinopse. Gostaria de saber como Cam iria lidar com todos os seus sentimentos conflituosos e a pressão de se sentir errada. Eu gosto que não seja um total "romance hot gay", isso acaba distorcendo tudo e parece não passar a mensagem que poderia. Parece um livro polêmico, reflexivo, transparente e confortável de se ler.

    ResponderExcluir
  2. Oi, Jéssica.

    Viver em função de algo ou de alguém, nunca trará verdadeiramente o conceito de ser feliz. Sempre trará o sentimento de vazio, de estar faltando algo, e a infelicidade tomará conta do ser.

    Essa fase de descobrimentos não é inteiramente fácil ter que se resguardar para o próximo, é menos ainda.

    Acredito que, assim como a Cameron, muitas pessoas que estão nessa fase de vida, pode se identificar com a mesma.

    A reflexão atingida pela autora, é que é o mais essencial dentro de todo esse contexto apresentado, onde podemos notar um diferencial dos demais livros, chamando nossa atenção.

    ResponderExcluir
  3. Olá Jéssica!
    Adorei sua resenha, eu não tinha lido nd sobre o livro ainda, na vdd nunca tinha o visto, adorei a capa e pela sinopse e sua resenha a leitura parece ser boa, o enredo parece trazer uma história bacana.
    Vai para os desejados.
    Bjs!

    ResponderExcluir
  4. Lendo uma resenha deste livro agorinha em outro blog que acompanho, foi que tive conhecimento da existência dele. Só tinha visto a capa, mas nem havia parado para ler do que se tratava e agora, me arrependo isso.
    Tratar a sexualidade desta forma mais jovial e ao mesmo tempo, misturar isso com religião é bem complicado, ao meu ver.
    Até que ponto o fanatismo religioso pode decidir ou não pela "cura" do outro? Ainda há tantas mentes fechadas em relação a este tema, por isso que cada vez mais, literatura e cinema precisam se unir, para tentar mudar todos estes conceitos e tabus de séculos em relação ao que as pessoas de fato são.
    Com certeza, quero muito poder ler o livro e claro, ver o filme também quando for lançado.
    Beijo

    ResponderExcluir
  5. An-nyong-se-ha-yo!
    Acho que nunca li um livro LGBT, e essa parece uma boa escolha para se começar. Apesar de parecer um pouco clichê, acho que deve passar umas mensagens bem impactantes.
    Beijin.

    ResponderExcluir
  6. Oi Jéssica.
    Adorei a premissa desse livro. Achei bem interessante a história não fazer um apelo tão grande a questão LGBT.
    Gosto muito de leituras que me fazem refletir ou me por no lugar daqueles que não são tão bem aceitos na sociedade. Acho super válido fazer questionamentos sobre religião, aos mesmo tempo que mostra a importância da fé, amizade e respeito pelos outros.
    Já vai para a lista de desejados.
    Beijos

    ResponderExcluir
  7. Olá Jéssica
    A minutos atrás, eu li uma resenha sobre esse mesmo livro. Achei o enredo interessante e muito delicado, ainda mais sendo sobre um gênero que eu não tenho costume de ler. As opiniões divergentes sobre o livro, agora me deixou indecisa, se eu me arrisco a ler ou não.

    ResponderExcluir
  8. É interessante ver como era a homossexualidade nos anos 90, ainda mais para uma menina; querendo ou não, acaba sendo diferente para homem e mulher.
    Mas, exceto por isso, não é uma história que me chame atenção e pelo visto deixou a desejar

    Beijos

    ResponderExcluir
  9. Oi Jéssica,
    Tinha visto esse livro quando vi o lançamento, mas confesso que a sinopse não chamou muito a minha atenção. Já li vários livros com essa temática, e no geral, forma leituras muito valiosas que cumpriram a missão de passar mensagens de empatia, amor e respeito. Mas tenho a impressão de que nesse livro está faltando algo para me deixar interessada em ler. Parece que a história deixou a desejar.
    Apesar disso, pelo jeito, a autora acertou em tratar esse tema tabu de uma forma sutil e delicada, sem trazer um romance hot gay. A grande maioria da literatura LGBT é com uma pegada mais erótica.
    Beijos

    ResponderExcluir
  10. Olá, Jéssica!
    Ainda não conhecia este livro, e não li livros LGBT.
    Pela sua resenha a autora abordou o assunto de forma delicada nos mostrando como muitas pessoas passam por essas situações.
    Beijos.

    ResponderExcluir
  11. O que a personagem Cam passa no livro retrata muito da realidade,pois muitas pessoas deixam de assumir sua sexualidade por medo do que os outros irão dizer. Acho que não tem nada de errado com as pessoas homossexuais, elas tem que procurar ser felizes e se as pessoas que as criticam realmente se importam,devem aceitar sua posição!!

    ResponderExcluir
  12. Obrigada pela indicação! Estava procurando um livro com essa temática. Gosto de livros ambientados nos anos 90, mesmo que seja muito triste o preconceito nessa época (e em qualquer outra). Já sei que vou amar o Cam.

    ResponderExcluir
  13. Oi Jéssica.
    Essa é a primeira vez que vejo uma resenha desse e já estou ansiosa por esta leitura.
    Eu adoro quando os autores abordam temas importantes, mas sem banalizar o que está sendo falado, eu gosto que nós leitores, acompanharemos as diversas fazes dessa jovem, que está tentando se descobrir, enfim, já quero.
    Bjs.

    ResponderExcluir
  14. Olá! Realmente deve ser muito complicado para Cam ter que lidar com todas essas dúvidas e transformações sem o auxílio dos pais, ou de alguém que compreenda ou tente compreender tudo que ela esta passando, acho válido que a autora aborde os temas de maneira que nos permite refletir sobre nossas atitudes.

    ResponderExcluir
  15. Fiquei com pena da Cam por ter que lidar com a perda dos pais e o auto conhecimento nos anos 90 ainda. O tema LGBT é cada vez mais abordado pelos autores e eu sempre gosto de todos os livros que abordam sobre. Gostei do fato de a autora não ter romantizado ou ter jogado coisas do tipo sexo e drogas no livro.

    ResponderExcluir
  16. Olá Jéssica,
    Ainda não tinha ouvido falar desse livro, mas gostei do assunto abordado.
    Acho importante mais livros sobre o assunto e considerando a idade da personagem seria bom que os adolescentes lessem pois alguns com certeza iriam se identificar com a personagem.
    Gostei de saber que a autora tenha criado uma estória real e não tentou romantizar o assunto.
    Gostei da capa desse livro.
    Já adicionei ele na minha lista.

    ResponderExcluir