1984 - George Orwell

10 de março de 2018

Título: 1984
Autor: George Orwell
Páginas: 416
Ano: 1949
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Distopia
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota: 
Sinopse: "1984" não é apenas mais um livro sobre política, mas uma metáfora do mundo que estamos inexoravelmente construindo. Invasão de privacidade, avanços tecnológicos que propiciam o controle total dos indivíduos, destruição ou manipulação da memória histórica dos povos e guerras para assegurar a paz já fazem parte da realidade. Se essa realidade caminhar para o cenário antevisto em 1984 , o indivíduo não terá qualquer defesa. Aí reside a importância de se ler Orwell, porque seus escritos são capazes de alertar as gerações presentes e futuras do perigo que correm e de mobilizá-las pela humanização do mundo.

Resenha:

George Orwell conseguiu uma proeza que muitos autores passam a vida buscando. Ele escreveu para todos os tempos. Eu li 1984 (que foi escrito e publicado antes de 1950) achando que a simbologia do livro representava o presente (2018). Vi nossa sociedade mascarada e pintada nas cores daquela época. A história de Winston pode muito bem ser a história de qualquer um de nós. Mas antes de explicar o porquê disso preciso fazer um rápido apanhado da vida desse homem.

Em 1984 o mundo estava dividido em três potências, Oceânia, Lestásia e Eurásia, que viviam em uma guerra infindável. Winston vive em Oceânia, especificamente em Londres, e todo o território abrangido por essa nação é dominado pelo Grande Irmão (o Big Brother). Esse GI rege uma ditadura em que todas as pessoas são vigiadas 24 horas por dia, 7 dias da semana, através de teletelas, policiais e ministérios. Mas o maior vigilante e responsável pela ditadura do GI funcionar e se perpetuar é a consciência de cada cidadão. Desde crianças eles são ensinados a aceitar as condições precárias que vivem como naturais, aprendem a não contestar nada e não se rebelar. São treinados para vigiarem seus próprios pensamentos e qualquer um que for minimamente diferente ou contra o sistema é considerado pensamento-crime e precisa ser delatado.

Se você teve alguma pensamento-crime então é um homem morto. Mesmo que o pensamento não gere nenhuma ação, você irá morrer. Isso acontece porque os cidadãos entram em um estado de profunda angústia, tentando esconder a “traição” e nessa eterna fuga acabam se delatando para a Polícia das Ideias e são desmascarados. As vezes, os pensamentos são involuntários e vem durante o sono, mas as teletelas ou suas próprias crianças os denunciam. O sistema exige que exista um amor incondicional apenas pelo Grande Irmão, minando todo e qualquer tipo de emoção que se desvie disso. O conceito de família é deturpado, as pessoas perdem o desejo sexual e tem o ódio pelo inimigo alimentado todos os dias.

A vida retratada por Orwell simboliza um desespero muito grande a respeito do futuro. Winston trabalha reformulando o passado, para que ele mostre apenas o que o GI quer mostrar e no meio disso se vê em desespero a cerca do que os anos vindouros reservam para eles. Começa um diário, já sabendo ser um homem morto, com o intuito de salvar o passado para aqueles que, porventura se encontrarem em um estado melhor, consigam ter um vislumbre real e não modificado do que acontecia. Mas ele sabe que dessa melhora ele não fará parte. Reconhece a lavagem cerebral sem tamanho feita nas pessoas desde o momento que elas nascem, criando nelas o sentimento de não serem indivíduos, mas uma parte do GI, que é o todo.

Ficção que transmite realidade, livros nos contando o que já sabemos, essa é a verdade presente na obra. Além do desespero em relação ao futuro que todos nós vivemos constantemente, do medo de sermos só um número em todo o cálculo matemático e da crítica às ditaduras totalitárias, acho que a ditadura do Grande Irmão também representa a ditadura da nossa própria consciência. Assim como as pessoas do livro, que tem a mente como a principal juíza, hoje nós também somos desse jeito (acredito que o homem sempre foi assim na verdade). Nossa mente julga todos os nossos atos, estamos fechados para ver o outro lado das situações e muitas vezes condenamos determinados questionamentos que surgem e tentam colocar à prova a ideologia que tentamos tão fortemente seguir. Desconstruir padrões nos assusta e isso prova a luta que vem sendo vivida atualmente, impedindo vidas de serem vividas em sua plenitude. Nossa cabeça é a juíza e a advogada da vida e se não tomarmos cuidado, ela nos pressiona a idolatrar sistemas (não necessariamente políticos, importante ressaltar) que abertamente nos impedem de progredir.

Talvez agora eu esteja forçando a barra um pouco demais mas acredito também que Orwell escreveu um dos grandes temores da nossa geração: o da perda do passado e adaptação para nutrir condutas ruins. De certa forma, nossa necessidade constante de documentar os minutos que vivemos de todas as formas conhecidas possíveis é para evitar que as coisas se percam na nossa memória, que amanhã acordamos e já não lembramos mais dos passos da última viagem ou contra qual país o nosso está em guerra. Documentamos os momentos para que ninguém nunca nos diga o que vivemos e para ter a prova de que nossa memória está correta. Para impedir que o desespero tome conta de nós quando, assim como Winston, tentarem nos fazer engolir qualquer coisa.

Depois de todas essas reflexões eu digo que Orwell tem direito à uma Standing Ovation por conseguir criar símbolos incríveis para os questionamentos que acompanham a humanidade em todos os tempos vividos. Apesar de tudo (ou por causa disso, talvez) a leitura do livro não é fácil. Ela é devagar e com mais narração que diálogos, o que contribui para a falta de dinamicidade. Além disso, a aura negativa que permeia as páginas acaba passando um pouco para quem lê também, tornando tudo um pouco perturbador. O autor escreveu o livro depois da II Guerra Mundial, então o pessimismo era uma característica que estava impregnada na sociedade. Mas, ironicamente, é um livro que te prende muito e quando você engata na história é difícil deixar de lado. A construção dos personagens e do universo em si é tão bem feita que você se sente parte do livro. Você passa a conhecer o jeito como as cabeças funcionam e por isso o final choca tanto. Posso garantir que foi um dos finais mais bem bolados que já presenciei.

Confesso que alguns momentos do livro eu acho que não acrescentam quase nada e me peguei pensando na relevância deles, mas talvez seja apenas porque foi meu primeiro contato com esse gênero literário então posso não estar preparada ainda para receber tamanha complexidade. Ainda que tenha sido um dos livros mais complicados que eu encontrei nessa caminhada literária, ele me provocou muitas reflexões,  várias coisas, além de alcançar seu objetivo com maestria e por isso só já recomendo a leitura. Se quiser comprar essa briga, saiba que uma leitura apenas não será suficiente para compreender a totalidade da obra, mas que ela vale toda a pena e o tempo dedicado.

Guerra é Paz
Liberdade é Escravidão
Ignorância é Força

8 comentários

  1. Olá Maíra!!
    Li pouco sobre esse livro, mas foi o suficiente pra que eu me interessasse em conhecer, gosto mto de livros com o tema abordado, espero conseguir ler em breve.
    Bjs!!

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  2. Sabe um dos motivos que gosto demais do blog? É isso, sempre trazer livros complexos em meio a livro mais "comuns". Esse resgatar obras do passado, sempre atuais e de grandes autores.
    Dos clássicos aos livros mais simples.
    E Orwell é um autor que a gente tem que reverenciar!
    Mesmo sabendo muito pouco dele, já li 1984 tem muito tempo e admito que mesmo me perdendo muitas vezes dentro do enredo, é um livro fascinante não só para quem ama o gênero, mas também para quem quer se jogar em um mundo totalmente diferente do convencional.
    Beijo e super recomendo!

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  3. Oi! Maíra.

    O autor soube mesclar diversos fatores já existenciais, que na própria época no qual o livro foi escrito, não estava muito distante de se ver.

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  4. Oi Maíra.
    O único livro que eu li do autor foi A revolução dos bichos e gostei muito.
    Quero muito ler 1984, pois todos falam muito bem e eu amo distopias. Não me importo com narrativas lentas, nem com esse ar mais pessimista, pois acho que condiz bastante com o tema e o ambiente retratado no livro.
    Espero ler o livro em breve.
    Beijos

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  5. Maíra!
    Vou contar um pouco da minha experiência com esse livro.
    Na minha adolescência era doida por ficção (e ainda sou).
    Li esse livro por volta dos anos 80, antes de 1984 e fiquei tão impressionada que comentava com todo mundo, e me questionava: será que vai acontecer tudo isso mesmo?
    Quando 85 chegou e nada aconteceu, tive até um certo alívio…kkkk
    Coisas bobas de adolescente…
    O livro vale super a pena a leitura.
    Bom domingo!
    “Quando choramos abraçados e caminhamos lado a lado. Por favor amor me acredite, não há palavras para explicar o que eu sinto...” (Renato Russo)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA MARÇO: 3 livros + vários kits, 5 ganhadores, participem!
    BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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  6. Olá! Esse livro está na minha lista há um bom tempo, sempre tive muita curiosidade em ler, mas nunca surgiu uma oportunidade, considero para mim, leitura obrigatória. Gosto do tema que ele aborda e é incrível saber que apesar de ter sido escrito há tanto tempo remete ao agora.

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  7. Oi Maíra
    Ahh que clássico bom, que autor maravilhoso! Amo demais!!
    Concordo com você que a leitura não é das mais fáceis. Eu demorei bastante pra ler mas no final achei que valeu muito a pena.
    Eu acho fantástico como o autor consegue criar uns símbolos de fato, e como ele consegue fazer isso muito bem.
    Merece muito ser lido apesar da leitura um pouco engatada.
    Bjs

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  8. Oi Maíra!
    Primeiramente, parabéns pela resenha!Eu tenho 1984 na minha estante há um bom tempo, mas por algum motivo eu sempre arranjo uma desculpa pra lê-lo depois.
    Pra mim um livro escrito há tantas decadas ainda ser atual diz muito da nossa sociedade. Parece que cada vez mais nos aproximamos da realidade do Grande Irmão já que a intolerância e a vigia ao outro ficam mais fortes a cada dia.
    Classico é classico por um motivo. Vamos ver se consigo lê-lo ainda esse ano.

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