A Noite da Espera - Milton Hatoum

18 de dezembro de 2017

Título: A Noite da Espera - O Lugar mais sombrio, 1
Autor: Milton Hatoum
Páginas: 237
Ano: 2017
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Ficção
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Submarino
Nota:           
Sinopse: Nos cinco anos que Martim passa em Brasília, faz anotações intermitentes sore sua vida de estudante no colégio e, depois, na universidade. A expectativa de rever a mãe cresce no contexto turbulento e brutal da ditadura. Nessa atmosfera de dúvidas, apreensão, violência e trauma, desenvolve-se o enredo de A noite da espera, até a dissolução final do grupo de amigos: a Tribo de Brasília. Este romance de formação - no qual as memórias do narrador são transcritas e repensadas em Paris - ecoa com força no nosso tempo, em que o impasse político e desmoralização das instituições estão no centro da crise brasileira. Por isso, pode ser lido como um romance de desilusão, que lança ao futuro o travo amargo de jovens estudantes cujo sonho era um país mais humanizado e meno desigual e injusto. 

Resenha:

Guardar os acontecimentos da vida é algo que a grande maioria das pessoas faz. Alguns guardam em fotos, outros em ingressos, entradas para museus, cinema, parques. Outros, guardam em palavras. E de vez em quando essas pessoas tiram suas caixas lotadas de cima do guarda-roupa e revisitam os momentos de felicidade, de tristeza e de experiências. São papéis e mais papéis, as vezes espalhados, as vezes em cadernos. Folhear as páginas e ver as imagens traz tudo a tona. Eu sei, porque faço isso. Assim como Martim. Já em 1978, lá em Paris, lê seus cadernos sobre o tempo que passou em Brasília. Ele, assim como muitos de sua geração, passou sua juventude em meio às turbulências da ditadura, bem no centro de tudo.

Perdido no meio do divórcio conturbado de seus pais, por volta dos seus 16/17 anos, ele se vê obrigado a deixar São Paulo, sua terra natal, para ir morar com o pai em Brasília. Ele deixa para trás seus amigos, sua família e principalmente sua mãe. Ela vai morar com o artista (a razão para o fim do casamento) em alguma cidade sem nome, em uma rua sem endereço. Martim dá um último abraço e sua mãe sem saber quando teria oportunidade de o fazer novamente. Chegando em Brasília ele se aproxima de jovens de um grupo de teatro e lentamente vai trilhando sua história.

Através das palavras em seus cadernos ele marca os momentos importantes de sua vida. Os conflitos políticos, o primeiro amor, o primeiro emprego e a angústia e a saudade de sua mãe. Sua personalidade é moldada pela severidade de seu pai e o abandono de sua mãe. A negligência o torna um espectador da vida, indo com o vento. As impressões que ele deixou em mim foi de alguém que estava perdido em si mesmo, deixando que os outros e a sociedade ditassem seu caminho. Mas alguém que ainda não tinha consciência disso. Nem mesmo 10 anos depois, já em Paris, pisando nas pedras de quem já tinha feito a trilha antes. Espero que os próximos volumes não demorem a chegar, porque acredito que ainda tem muita água pra rolar até a chegada de Martim em Paris e este livro termina com um novo começo.

Pode ser que essa interpretação seja muito diferente das dos outros leitores. Mas é assim que ser. Essa é a proposta do livro, causar indagações e pensamentos no leitor. É trazer uma visão da ditadura para as várias experiências que a enxergam diferente (até mesmo aqueles que, como eu, não a viveram). É trazê-la de uma forma tão intensa que, mesmo não se falando nela, ela se faz presente em todos os aspectos das vidas que a viveram. A proposta do livro é discutir um lado da nossa história doloroso a partir dos olhos de adolescentes. É discutir como a família muda todo o rumo de uma existência. É nos fazer refletir sobre nossas próprias memórias.

A linguagem, não tão simples (mas também não tão rebuscada) cabe perfeitamente no clima da história. Ela se encaixa nos acontecimentos e nos dá um vislumbre do inconsciente de Martim. A narrativa é bem construída, assim como seu conteúdo. Realmente o ritmo dela é um pouco lento, ela não flui com tanta facilidade, mas isso (acredito eu) está dentro da proposta do livro. O autor foi alternando os capítulos entre o “presente” de Martim e a leitura de seu passado. É como se estivéssemos lendo junto com ele, revisitando suas memórias e eventualmente alguma indagação ou situação nos traz de volta. Com certeza é um livro que propõe que você vá além do que suas palavras dizem. Ele te permite e ainda te convida a isso. Agora resta saber se você vai aceitar esse convite.

11 comentários

  1. Primeira resenha que leio deste livro e já quero muito poder também fazer essa viagem ao passado.
    Todos temos nossas lembranças, fotos, velhas anotações,dramas, perdas...e poder fazer isso assim, de uma forma tão real, deve ser algo sem explicação.
    A carga psicológica do personagem é muito forte, a gente nota pela resenha o quanto há sofrimento,mas também, questionamentos.
    Foi para a lista de desejados e espero poder conferir em breve!
    Beijo

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  2. Achei legal isso da política no livro, chama atenção ver algo desses tempos e é bom pra entender um pouco do clima da época. Achei legal esse tom perdido da trama também, dele estar ali vivendo pela onda, perdido em si mesmo e seguindo do jeito que der pra seguir...meio doido, faz pensar.
    Só o tom mais lento é que pode prejudicar um pouco na hora de ler porque se arrastar as coisas eu me embolo ali e fico dias e dias presa no livro, dá certo medo ler assim. Mas gostei dele, é interessante.

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  3. Eu não gosto de histórias biográficas, então não me sinto animada para lê-lo. Também parece ter uma leitura lenta e pesada e... isso não me agrada. Sou de acontecimentos após acontecimentos e livros que passam rápido.

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  4. O livro parece ser bem construído mesmo, mas livros que se alternam entre o presente e o passado, me cansam, me causam impaciência!

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  5. Livro muito bom por sinal! Costumo guarda cartas, adoro reler de tempos em tempos as mensagens. É muito nostálgico. Po´rem não sou fã de livros biográficos, então não acho que eu vá gostar de ler.

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  6. Adorei a proposta do livro, parece ser interessante e bastante gente está comentando. Quando eu era pequena costumava manter diários com as coisas que aconteciam e hoje, revisitando essas memórias, parece que tudo aconteceu com outra pessoa. Abordar também o teatro e a ditadura me chamaram ainda mais a atenção, com certeza lerei. Vou esperar os outros volumes, no entanto haha Bjs!

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  7. Maíra!
    Obras que falam sobre a história do BRasil, de maneira didática ou não, sempre chamam minha atenção, pois gosto de digamos assim 'filosofar' sobre a visão do autor.
    Leio muitos autores nacionais e procuro sempre fazer uma análise mais técnica da obra, justamente para poder incentivar à melhoria, caso seja necessária. Infelizmente não apenas os fãs clubes ou aficionados pelos autores não aceitam as críticas, bem como muitos dos autores não entendem e se enfezam, mas não me furto às leituras por isso, sempre lendo nacional porque também tem coisa muito boa.
    Uma semaninha abençoada na paz do Senhor e FELIZ NATAL!
    “Celebrar o Natal é crer na força do amor, é isto que transforma o homem e o mundo. Feliz Natal!” (Desconhecido)
    cheirinhos
    Rudy

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  8. Olá!
    Que livro!
    Com certeza uma historia emocionante e envolvente. A historia do personagem me fez lembrar das coisas que guardo em cartas, fotos e memorias, são momentos que queremos viver para sempre. Amei o livro e com certeza quero ler!

    Meu Blog:
    Tempos Literários

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  9. Acho massa que novos autores nacionais ganhando espaço nas prateleiras mas não me interessei muito no livro nem na premissa não consegui ser atraída pela história

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  10. Oi, Maíra!
    Essa é a primeira vez que vejo uma resenha sobre esse livro, gosto de conhecer um pouco sobre uma fase tão perturbadora como foi a Ditadura Militar, achei bem interessante a estória.
    Bjos

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  11. Não conhecia esse livro, mas gostei, uma história simples que para mim da para ler tranquilamente. Sò não gostei muito da capa, mas nada que impeça a leitura.

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