Kindred - Laços de Sangue - Octavia E. Butler

13 de março de 2020

Título: Kindred - Laços de Sangue
Autor: Octavia E. Butler
Páginas: 432
Ano: 2017
Editora: Morro Branco
Gênero: Ficção científica, Literatura Estrangeira.
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota:  
Sinopse: Em seu vigésimo sexto aniversário, Dana e seu marido estão de mudança para um novo apartamento. Em meio a pilhas de livros e caixas abertas, ela começa a se sentir tonta e cai de joelhos, nauseada. Então, o mundo se despedaça.
Dana repentinamente se encontra à beira de uma floresta, próxima a um rio. Uma criança está se afogando e ela corre para salvá-la. Mas, assim que arrasta o menino para fora da água, vê-se diante do cano de uma antiga espingarda. Em um piscar de olhos, ela está de volta a seu novo apartamento, completamente encharcada. É a experiência mais aterrorizante de sua vida... até acontecer de novo. E de novo.
Quanto mais tempo passa no século XIX, numa Maryland pré-Guerra Civil – um lugar perigoso para uma mulher negra –, mais consciente Dana fica de que sua vida pode acabar antes mesmo de ter começado.
“Impossível terminar de ler Kindred sem se sentir mudado. É uma obra de arte dilaceradora, com muito a dizer sobre o amor, o ódio, a escravidão e os dilemas raciais, ontem e hoje” – Los Angeles Herald-Examiner


Resenha:



“O problema começou muito antes de 9 de junho de 1976, quando me dei conta dele, mas 9 de junho é o dia que me lembro. Era meu aniversario de vinte e seis anos. Também foi o dia em que conheci Rufus – o dia em que ele me chamou pela primeira vez.”

Kindred, é um clássico da literatura americana, escrito pela grande dama da ficção cientifica Octavia E. Butler, é um livro de viagem no tempo, cuja trama é uma imersão na história dolorosa da escravidão e da cultura negra. Publicado no Brasil pela editora Morro Branco, possui duas edições, uma em capa dura e outra em brochura. A capa é muito bonita e já entrega o conteúdo delicado e forte da trama. Com uma linda diagramação e uma excelente tradução o livro, me fez ficar em um silencio doloroso em muitos momentos.

Na história vamos acompanhar Dana e seu marido Kevin, eles acabaram de mudar para uma nova casa e apesar de ser aniversario de Dana, ela está muito cansada e não deseja sair para comemorar. Quando ela começa a se sentir uma sensação horrível e uma tontura. Quando ela abre os olhos ela não está mais em sua casa e sim na beira de um rio, onde um garoto esta se afogando. Sem pensar em nada, ela se joga no rio para salvar o garoto, ignorando gritos em sua direção. Ao resgatar a criança, ela acaba se vendo ameaçada por uma espingarda. É quando a sensação ocorre novamente e ela se vê novamente em sua casa em segurança. Seu marido em pânico não entende como sua esposa sumiu e reapareceu pouco depois encharcada e cheia de lama. Nem ela.

Logo isso acontece novamente, ela surge em outra ocasião, onde o mesmo garoto esta em risco de vida, ela o salva novamente. O garoto chamado Rufus é agora um pouco mais velho do que a primeira vez. Logo Dana, começa a desvendar os motivos que a levam a viajar no tempo, isso mesmo, ela não somente some e reaparece toda vez em que ele está em perigo, mas é uma viagem no tempo.

Para uma época no passado onde a escravidão era legalizada, e Dana como uma mulher negra se vê em meio de um perigo imediato.

Esses acontecimentos acontecem varias vezes ao longo do livro, e ela sempre precisa voltar para salvá-lo. Aos poucos vai desvendando os motivos para isso, aquele é seu ancestral.

É aqui que a trama se aprofunda, nem sempre essas viagens são rápidas, em algumas delas ela precisa viver nesse período, o que a obriga a vivenciar os horrores da escravidão, branca demais para ser considerada um deles, negra, para ser branca ela se encontra muito vulnerável. Rufus é o filho de um fazendeiro cruel, branco ele será o responsável pela linhagem de sangue que gerará Dana. É importante que ela o mantenha vivo.

“Era, por isso que eu estava aqui? Não apenas para garantir a sobrevivência de um menininho que sempre estava em perigo, mas também para garantir a sobrevivência de minha família, meu próprio nascimento?”

Mas o quanto ela precisará suportar por isso?

As várias viagens no tempo, acabam por mudar muito como a própria Dana vê a sua vida, seus relacionamentos e sua posição no mundo como mulher e negra.

“Não sabia que as pessoas podiam ser condicionadas com tanta facilidade a aceitar a escravidão.”

Octavia não romantiza o período da escravidão. Violência, estupros, racismo e muita brutalidade são retratados. Até mesmo Dana, descobre que está presa a esse ciclo de viagem no tempo, sua vida sendo totalmente mudada, ela não dispõem de liberdade mais. Nunca sabe quando será levada de seu tempo e obrigada a salvar uma criança que enquanto cresce se torna mais cruel e menos humana.

Como pode imaginar, Kindred, Laços de Sangue é um livro difícil de ler, porém, necessário, uma leitura que se torna parte da sua vida e capaz de ser um catalisador: de emoções, debates, mudanças de opinião. Impossível ler ele e não tirar um tempo para refletir.

“- Talvez eu seja só uma vítima de roubo, estupro ou algo assim... Uma vítima que sobrevive, mas não se sente mais segura. – dei de ombros. – não sei explicar o que aconteceu comigo, mas não me sinto mais segura.”

Não é um livro que eu recomendo ler muito rápido, algumas partes são extremamente dolorosas, mas é um livro que acredito possa ajudar a muitos a compreenderem a escravidão e suas múltiplas facetas. Escrito em 1976, é infelizmente muito atual, já que muito ainda precisa ser feito para que a escravidão seja compreendida por todos e para que o racismo seja erradicado.



Com uma escrita direta e fluida, Octavia teceu uma trama riquíssima de significados, suas críticas sociais, o modo como aponta as atrocidades que a raça negra foi forçada a viver é impactante. Contundo, é na forma densa e bem trabalhada da criação de seus personagens que está um dos pontos mais altos desse livro. Todos são assustadoramente reais. O que trás uma conexão instantânea entre leitor e história. O que torna tão boa a leitura quanto triste. 

Recomendo muito a leitura e o debate desse livro. 
Até a próxima.

4 comentários

  1. Este livro é maravilhoso! Aliás, acompanhar as viagens de Dana é como sentir na pele sua dor, sua compaixão, seu amor.
    Cada página lida é um afago e uma facada no coração e sim, por momentos, é preciso parar a leitura e somente ficar olhando o vazio.
    Pois se fica sem palavras!
    Octavia é linda de viver e pelo que ando lendo, seu nome tem se firmado entre as grandes escritoras do nosso tempo, merecidamente!
    Um livro super recomendado!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  2. Olá! Atualmente venho me deparando muito com o nome da autora, e acho que não é para menos neh! Mas o que me faz ficar com o pé atrás (pelo menos até agora), em relação a sua escrita são aquelas duas palavrinhas ali encima, “ficção cientifica”. Em contrapartida essa sinopse e principalmente essa resenha me fizeram rever esse conceito, pois pelo jeito aqui temos muito mais que uma ficção hein, a história aborda temas bem mais complexos, tristes e pesados e eu fiquei bem curiosa, mesmo já sabendo que vou ter que respirar fundo para encarar a leitura.

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  3. Vivian!
    Bom ver que o livro escrito na década de 70, se tornou atemporal, afinal, a escravidão é um tema recorrente e de muito sofrimento e que infelizmente ainda existe, mesmo que de forma mais amena, porém ainda se faz presente.
    Nem imagino ter um filho e ver que sofrerá as dores da escravidão...
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Olá!
    Tinha visto esse livro mas nunca parei para saber mais. Ao ler a resenha fiquei muito curiosa por ela, tem uma premissa ótima e ainda mais ter viagem no tempo foi o que me deixou mais curiosa ainda. Espero ler logo!

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